segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Amor daltônico




Encanto-me tanto
Com o brilho intenso
Dos teus olhos raros
Não importa o quanto
Nem se são azuis ou
São verdes claros

Talvez um encontro
Mas não sei teu endereço
Onde tu moras
Posso demorar um pouco
Até que eu encontre o tom exato
Do teu portão de fora

Não me pergunte a cor
Nem o tamanho do meu amor
Por ti

Pode ser
Que eu não queira revelar
Pode ser
Que eu tenha medo de arriscar
Sem saber

domingo, 30 de outubro de 2011

Exceção




Parecia que o mundo havia parado
Silenciado para ouvi-la
O relógio andava lento
O tempo não passava
Promessas haviam sido quebradas
E sem querer, jogadas
Ao vento

[sofrimento

Restava ainda uma resposta
Uma certeza sobreposta
Sobre tal situação
Que de tênue
Tornar-se-ia indefinida
Como uma rua sem saída
Um beco na escuridão

[ao fim de tudo, nada mudou...

Exceto o brilho dos seus olhos
Que sem querer
Contaram-me um segredo
Difícil de guardar e esquecer

sábado, 29 de outubro de 2011

À noite

foto: Raul Garré


À noite percebo outras formas
Sinto o peso que vem de fora
Carregado de desilusão
Esperando para atravessar a rua

Tantos olhares e minha percepção
Tímida sem manifesto
Alguns copos de cerveja
E muita conversa jogada fora

O relógio teima em ditar as horas
Mas o que é o tempo?
Diante dessa correnteza de sensações
Desse rio que vai além mar

À noite encontro-me no escuro
No lado errado do muro
Que separa
Meu mundo do teu 

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Pouco tempo




Encontro o fogo
O mar revolto
As ondas nem sequer
Mudaram de direção
Espero por um momento
Embaralho o jogo
Visualizo o mesmo horizonte
Em tudo o que vejo

Agora ainda é cedo
Mas o tempo é pouco
Pra demonstrar todo o meu desejo
Pelo teu beijo
Pelo teu corpo

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Cara de outono




O que hoje vejo
Não é mais do mesmo
O tempo voou com o vento
E eu mudei um pouco

A paisagem turva
A cidade escura e sua timidez
As esquinas perdidas
Ruas sem saída pra nós dois

O que agora encontro
Escombros de sentimentos plenos
Migalhas de sensações extremas
E essa primavera com cara de outono

domingo, 23 de outubro de 2011

Sem medo

Banksy

Na pele clara
A paixão desperta
Tão breve tão rara
Quanto incerta

O tempo para
Na medida certa
O que nos separa
Também nos desconcerta

Sonhar é viver
É deixar a felicidade acontecer
Com intensidade, sem direção

Guiado sempre pelo coração
Sem medo de acordar ou adormecer
Sem medo de errar e dizer não

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Analógico




Luz e sombras
Sobre os escombros
Daquele dia que passou
Memória fotografada
Incerteza ampliada
Ao menos, um lugar revelador

Luz negra, pela clara
Olhos que observam o mundo
Nem mesmo um segundo
Eu fico sem pensar
Subindo paredes
Matando minha sede n’outro lugar

Cinzas




Sob um céu de cinzas
Ainda indefinido
Nasce o dia, subtraído
Do teu perfume
Tua essência
O vento dobra a esquina
Assovia uma canção desconhecida
Mesmo que ainda aja saída
Não sei se fico
Nem sei se quero viver assim

O bonde que sempre sai do centro
Deslizando lento sobre a paisagem urbana
Não passou por aqui essa semana
Dizem que se perdeu por aí
Na escuridão
Faz tempo que o último trem
Partiu da estação
Deixando o silêncio e a solidão
Pintando o céu de cinza
Enquanto dói 

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Feliz e tanto

Picasso
 *para minha amada


Enquanto
Teus olhos de querer-me
Outro tanto
Encontrarem nos meus
Metade do encanto
Eu vou viver

Amor
De trocas tão sutis
O tempo liquidificador
Emperrou quando te conheci

Espero
Que o teu sorriso
Tão sincero
Ensine pra mim
Muito mais do que eu quero
Que é ser feliz

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Não?!

foto: Raul Garré

Não me faça perguntas difíceis
Nem me peça coisas impossíveis
Antes do sol se pôr

Pode ser que eu responda
Que eu não queira
Baseado em argumentos que nem a mim convençam
Com receio ou medo de alguma besteira

E o clima pode acabar
Por vir a mudar
Definitivamente
Entre nós dois

Fica na boa!

domingo, 16 de outubro de 2011

Ah...

foto: Raul Garré

Atrás das paredes pintadas
E da densa cortina de fumaça
Aquela dor passageira que não passa
Talvez volte pra falar de ti

Virá e apenas será
Mais um capítulo a parte
Mais um momento de arte
Entre o criador e a criatura

O escultor esculpindo amor
O poeta e sua fantasia de amar
Criando sobre as cicatrizes que não deixou curar
Reencontrando os sentimentos de outrora

Ah...
A inspiração...

sábado, 15 de outubro de 2011

Até quando?

Edvard Munch - 1893

Pelas esquinas da vida
Andando sob o céu imenso
Sobre as sensações exclusivas da noite
Eu penso
Até quando iremos suportar calados!

Até quando sobreviveremos
Escravos de alguns trocados
Ouvindo a hipocrisia
Mudos, sem questionar
Deixando o tempo, a vida passar

Mendigando amor e respeito
Cobrando de quem não tem
Aplaudindo corruptos que não fazem o bem
Nem a si próprios
Coitados...

Até quando vamos assistir de camarote
A destruição da natureza
Defendida pelos ideais de um sistema falido
Onde nem mesmo o “líder”, fudido
Consegue pagar suas contas

Até quando vamos esperar?
Pra começar a agir
Reivindicar
Crescer
Transformar
Gritar bem alto pra todo mundo ouvir

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Um norte

foto: Ana Klug


Sem direção
Sem saber o lado certo
Sigo o meu caminho
De espinhos
Na selva de concreto

Na esquina
Indeciso sem pensar
O céu querendo chover
Antes de anoitecer
Depois de o sino badalar

Procuro algum norte
Talvez com um pouco de sorte
Eu possa também te encontrar

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Artefatos




Enquanto chove
O mundo gira
E o vento move os artefatos
Fotografias
Espaços
Tudo pra longe de mim

Paredes amareladas
Testemunhas do tempo
Vidros quebrados
No quarto
Na sala
No lado de dentro

À espera de um fim

Cerrado


Como eu poderia imaginar
Diante da beleza dos teus olhos
Que eles seriam marcantes para mim
Num dos únicos momentos
Em que os vi fechados

Dentro do escuro!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Intento




Encontrei um lugar
Perto do infinito
Depois do horizonte trêmulo
Onde moram as estrelas

A cercania silenciosa
Todos os seres em harmonia
Aguçando a todo instante
O desejo de apenas estar ali

Os valores subjetivos
As causas justas comuns
A intensidade dita o ritmo cardíaco
E o tempo simplesmente para

Não existem relógios
Talvez nem exista prisão
Ninguém julga ninguém
A não ser a si mesmo

Esse pequeno mundo
Vive dentro de cada um
Tem haver com o desapego
Tem haver com reflexão

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Gris

foto: Raul Garré

Bem sobre o portão
Do muro que nos divide
Existe um horizonte
Ainda...
Com cores grises

A porta sempre fechada
Janelas entre abertas
Pessoas passando na rua
E a lua...
Presa a chaminé da fábrica

Sem saída


Sem saber
Nem pensar
O porquê
De se apaixonar

Ainda perplexo
Sorriso escapando
Controle do ar
Sufocando, sufocando

Olhos de querer
Mundo de beijar
Como dormir
Sem antes sonhar?

Fim do túnel
Loucura incontida
Proposta indecente
Não há saída

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Tormento

arte - Jairo Tx 


Procurei um adjetivo
Pra ilustrar tua beleza
E encontrei um bom motivo
Pra falar de sutileza

Os sensores sensitivos
Confirmaram minha certeza
E os poetas mortos vivos
Evocaram-te sobre a mesa

Teu corpo virou poesia
Tua alma deserta, vazia
No espaço métrico de um tormento

Algumas linhas de sofrimento
Fazem de ti, fantasia
Somes de mim, não agüento

domingo, 9 de outubro de 2011

E que seja

fotografia: Raul Garré


E que a vida seja
Como um sonho que não termina
Uma paixão que recém desperta
Uma fotografia ampliada na retina

Que seja colorida
Que encontre beleza
Na simplicidade de querer apenas ser
Em harmonia com a mãe natureza

E que a vida seja
Executada sem grandes projetos
Improvisada em cada suspiro
Que tenha sempre alguém por perto

Que tenha jardins infinitos
Variados motivos de flor
Perfumes, dúvidas, espinhos
E que em nenhum momento falte amor

sábado, 8 de outubro de 2011

Cena




Tua imagem
Gravada na minha tela de retina
Pele pétala de flor
Perfume de cor
Na calçada da esquina

Tuas intenções
E tua beleza morena
Na minha alça de mira
O tempo também admira
E como faz cena

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Horizonte




Todo antes
Modifica o durante
Para que o depois
Seja pleno

Todo dia
Viajante no horizonte
Submerso em delírios
Um amor amante

Todo pouco
Quase nada
Muito vive
Talvez, morra 

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Infindo


Encontrei um sentimento
Parei...
Olhei...
Talvez tenha voado com o vento

Era por certo, de alguém que o perdeu
Artefato
Simples fato
Que comigo, por acaso aconteceu

Ninguém melhor do que eu pra viajar
Fabulando...
Imaginando...
Caminhando em paredes de quebrar

Muitos dias a pensar, viajante
Sorrindo
Infindo
Instante

Encruzilhada



Sentimento
Doces sentidos à flor
Da pele que queima de amor
Breve consentimento

Tão perto
Andarilho das encruzilhadas
Cores quentes estimuladas
Brotam no vazio deserto

Loucura
Afogar-me no teu beijo
Tornar-me teu único desejo
Agarrado na tua cintura

Imenso
O céu ainda indefinido
Por sonhos adormecidos
Mergulhados no teu perfume intenso

domingo, 2 de outubro de 2011

Máquina de descrever




A mesma tecla
Presa ao passado
A mesma regra
Não vale pra nós dois

A fita deve ser trocada
Nossa história se aproxima do fim
Enquanto palavras se apagam
Fora de ti, dentro de mim

Caixa alta ou caixa baixa?
Cor padrão ou vermelho borrado?
Sons que se perderam na imensidão do tempo
Artifícios do teclado

Era digital datilografada
Caminhos paralelos que se cruzam no final
O futuro e o passado num email encaminhado
Em anexo...
O nosso drama existencial

sábado, 1 de outubro de 2011

Outra vez




Ainda sem esperar
Sem saber no que ia dar
Recebi tua mensagem
E quase morri por dentro

Sorri
Chorei
Pensei então
Sobre as dores do mundo
E por alguns instantes
Senti pena de mim

Ainda sem imaginar
Sem saber onde esse trem vai parar
Acalmo a minha estupidez
Respiro fundo e releio
Tua mensagem no telefone
Outra vez