domingo, 7 de dezembro de 2014

eu tenho andado triste

eu tenho andado triste
minhas certezas foram despidas
de seus princípios
e o que era precipício
deixou de ecoar dentro de mim
talvez por andar a esmo
com a cabeça entre os ombros
que nunca foram capazes de suportar mundo algum
talvez por rolar com os cães e os mendigos
que imploram pra manter-se vivos
entre os zumbis e outros seres sem compaixão
eu tenho estado triste
por não ver mais em mim
aquele homem capaz de interferir no curso das injustiças
que seguem no impulso de quem planta, colhe e dissemina
a ganância e a intolerância para com o próximo
paradoxo de uma sociedade 
que encontra seus bilhões de exemplares
vivendo como se fossem sós, um a um
na urgência de seus desejos mais secretos
e na pobreza de seus sonhos de consumo
que não servem pra nada
se não, pra se consumir

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

terça-feira, 18 de novembro de 2014

para Manoel de Barros

foi de tanto habitar passarinhos
que eu cantei desde cedo
ao pé da figueira
sombra de minha infância
foi de tanto inventar descaminhos
que descobri por mim mesmo
os trilhos e outros inutensílios
sem importância
foi de tanto encontrar nos meus filhos
a resposta para o que há
de mais complexo
em nossa existência
que eu me rendi à inocência
de deixar acontecer

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

era uma vez...um poema

era uma vez um louco
que vivia de aparências
e bebia por urgências
que é melhor nem comentar
era uma vez um sonho
que morria pelas beiras
e esperava as sextas-feiras
para enfim se libertar
era uma vez o pouco
acusado de ser muito
apontado por afoito
aclamado por ser único

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

chuva fina

não fosse a chuva
fim da linha
solidão
seria a brisa
minha língua
no teu dorso
não fosse o coro
da plateia
multidão
seria o fim
dos nossos dias
no almoço

domingo, 12 de outubro de 2014

sorte pior

há um distúrbio
em meus olhos
aprisionado nas retinas
condenando-me a ilusão perpétua
de ver as coisas
além do que elas não são
há um dilúvio
em meu peito
pronto pra rebentar as comportas
a espera de um buraco de bala
última gota num copo d’água
prestes a transbordar
há um reduto
em minha mão direita
onde despejo
a minha inconformidade
e isso talvez, seja o que me salve
de uma sorte um pouco pior

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

sem anestesia

encontro a dor na pia
com as mangas umedecidas
e um corte no supercílio direito

deixo-me sangrar na pia
com os olhos esbugalhados
e uma dor que atravessa o peito

eu vejo escorrer na pia
toda a anestesia que permitiu
o meu enfrentamento 
diante daquele 
que é o meu maior defeito

lutar pelo que não tem jeito

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

azul turquesa

tudo continuava ali
as paredes manchadas
o pedaço de reboco
que caiu na entrada do corredor
as fotografias amareladas
os mesmos quadros
a garagem ainda alugada
para uma oficina de bicicletas
os quartos interligados
por portas que chegavam ao teto
o poço artesiano coberto
por uma espessa camada de concreto

tudo continuava ali
as janelas que davam pra rua
o fogão que alimentava a cozinha
o rádio que a escutava
a cama onde sonhava
e o quintal que iluminara os seus dias

quando resolveu partir

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

narcisa

narcisa
do rio, fez seu espelho
no cio raspou os pentelhos
e reclamou que seu cabelo
estava sem corte

narcisa
no frio tirou a camisa
fez selfie da barriga
e debochou de sua amiga
sem prótese

narcisa
como seria a sua vida
sem cortes?

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

ciranda

eu te vejo
no lado sujo do espelho
e te bebo
com duas pedras de gelo
eu te perco
no meio de um pesadelo
e te escrevo
depois eu durmo até cedo

tem sido assim

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

absurdo

era um amor
de tirar o fôlego
de perder o sono
de faltar a fome
de lembrar o nome
e esquecer o rumo

era um amor
de tirar de cena
de perder o vício
de faltar o ofício
de lembrar poemas
e esquecer de tudo

era um amor
desses, absurdos

sábado, 13 de setembro de 2014

solo de trompete

vivo por conta de um acaso destino
sobrevivo sob as garras de um algoz predador
respiro com a certeza de não estar sozinho
caminho sempre o lado do meu temor

carrego nos ombros escombros de histórias
dirijo a minha vida com ficção
não fico pendurado em doces memórias
nem trato o futuro como uma opção

o meu mundo está no agora que se repete
na esquina que muda a cada segundo
na beleza de um solo de trompete
e na incerteza do olhar de um vagabundo

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

ventus

tomara que um vento
desses de primavera
te encontre

e te convide a vir
desarrumar os meus cabelos
numa tarde qualquer de setembro

terça-feira, 9 de setembro de 2014

assassinatos na rua nove

ele curtia poemas
e marcava seus amigos no face
ele marcava poemas
como se nada de melhor acontecesse
ele melhorava poemas
e era apedrejado pela crítica
ele apedrejava poemas
baseado na cultura analítica
ele analisava poemas
enquanto bebia num copo d’água
ele bebia poemas
afogado no seu quarto de mágoas
ele afogava poemas
e por isso não os publicava
ele era um assassino
no sentido literal da palavra

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

lua cheia

vem...
mergulha no mar da incompletude
demonstre o amor que nos divide
em atos 
e palavras na areia

vem...
enfrenta o temor que nos intriga
deixe que a maré cruze por cima
expõe o teu corpo
a luz da lua cheia

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

tem que bater

poesia que não toca
é faca que não fere
fogo que não consome
é comida que não mata a fome

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

celebração

vamos celebrar o eco
residente nos abismos
o grito dos amantes oprimidos
e o medo no poema de Drummond

vamos celebrar o elo
das correntes necessárias
a morte que tarda mas não falha
e o corvo do poema de Allan Poe

vamos celebrar o caos
vendido a preço de ouro
reviravolta, melancolia e o estouro
como Charles Bukowski falou

vamos celebrar o ócio
o tempo, a demora
pois acabo de encontrar agora
a eternidade num poema de Rimbaud

sábado, 26 de julho de 2014

um menino

aquele menino corre por impulso
no mesmo curso
em que navegam suas fantasias
ele é do interior
cresceu no interior
e sabe muito bem disso

no balanço improvisado
balança a sua imaginação de criança
e como voa!
e como dança!
imitando os pássaros
e os dragões que ele mesmo cria

o menino corre sob a grande figueira
à tardinha
ele sente fome e sede
pelo desconhecido
é um curioso assumido
o tal jovem valente

aquele menino
só tem medo, mesmo
é de gente

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Poetas pelotenses




No anoitecer de sexta-feira, a Maria Bonita Comunicação recebeu quatro autores poetas de Pelotas. Na sala escura, com a claridade de suas próprias letras escritas em folhas ou seladas por dentro, o poeta ouvia sua própria voz. O resultado está aí, na compilaçao de poesias de Alvaro Barcellos, Daniel Moreira, Márcio Ezequiel e Rogério Nascente. Os poemas irão em áudio para a RádioCom 104,5 FM no Terapia Literária. E agora, ganham um toque da imagem vista a partir de uma luz que foca na palavra de cada poeta que passa por lá.

Márcio Ezequiel - "O Corpo"
Alvaro Barcellos - "Tempo de Nascer"
Daniel Moreira - "Dona"
Rogério Nascente - "Tenho"

Produção: Maria Bonita Comunicação

sábado, 19 de julho de 2014

um ano e pouco de leitura

Gracias por El fuego, Benedetti!
aqui na Satolep de Ramil
permito-me aos meus Poemas Urbanos
De pernas pro ar com o Galeano
como O aprendiz de feiticeiro do Quintana

vivemos Uma terra só, disse Schlee
e embora não tenhamos
O coração amarelo de Neruda
nem ouvido Potchua Babulenka
e as histórias da vó do Duda
continuaremos a Despertar por poesia como o Braga
faremos do papel um Confessionarium, como fez Zanon
estaremos On the Road com Kerouac
e nas Espumas flutuantes de Castro Alves

tomara que alguém
Leia antes de jogar fora, Ezequiel
pois este poema não fala
Sobre amores e outras utopias como o Martim César
e não considera que
O amor é um cão dos diabos como o velho Buk
e por mais que pareça
[in]fértil ou poesia alguma, como disse Borges, o Gabriel
ele apenas resume um ano e pouco de leitura

quarta-feira, 16 de julho de 2014

quase lá

um caso de
acasos tão escassos
um quarto feito de
quadrados mágicos
mais fácil é ocultar o
brilho tácito
do que expor as
consequências deste amor

a um passo de
tornar-se inevitável

sábado, 12 de julho de 2014

sopapo

eu sinto a culpa
dos que não sonharam
o medo dos que não fugiram
e nojo dos afortunados
que se julgavam donos de certos destinos

eu sinto o sal do charque
atravessado
a umidade que escorre pelo casarão
eu sinto no peito um tambor desesperado
que clama por liberdade e expressão

eu sinto o sangue escorrendo
em minhas costas
quando penso nas charqueadas
que beiravam o Arroio Pelotas

domingo, 6 de julho de 2014

tempos modernos

que bom seria
se o tempo voasse
sem os ponteiros nas asas
que a vida corresse
com tantos anos nas costas
e que os filhos crescessem
livres do medo de errar
que bom seria
se a maturidade chegasse
como cada primavera
que o perdão permanecesse
independente de quem erra
e que o amor não fosse mais
uma simples moeda de troca
que bom seria
uma paixão a moda antiga
sem as correntes
as divisas e o preconceito

quinta-feira, 3 de julho de 2014

café passado

no tinir das xícaras
o presente de sua existência
ante a face nefasta do tempo
o passado é um café forte e amargo
que às vezes cruza a garganta
e como por instinto
clama pela sua presença

não haverão mais Julhos
sem ti
eu sei
e talvez nenhum café

segunda-feira, 30 de junho de 2014

a árvore e a vida

perdeu as folhas
no outono
em que nos conhecemos
ganhou o fogo
no inverno
em que nos aproximamos
e virou cinza
ante o céu
da mesma cor

cidade plana

o ralo da pia
do banheiro e da cozinha
estão sobrecarregados
os córregos da cidade
transbordaram
e a escada virou cascata

havia muito tempo
desde seu último abraço
um velho coração
agora resvala pelo chão
junto com outros cacos

é que o poeta
que morava lá no quarto
não vinha escrevendo
e por si, só
foi definhando
escorrendo
sufocado

quinta-feira, 26 de junho de 2014

atemporal

não vou mais torcer
que chegue logo 

o fim de semana
pra depois reclamar
que o tempo voa


eu quero
é me sentir vivo
no meio desse temporal

sexta-feira, 20 de junho de 2014

cuidado, frágil

faz muito frio
mas meu amor
não entregue os pontos
aqui estou
temos o fogo
vinho merlot
el uno al otro
e o teu tremor
faz muito frio
mas por favor
ainda há pouco
reclamavas do calor

quarta-feira, 18 de junho de 2014

el vuelo de la mariposa

eu vejo
seu rosto no espelho
e ouço
sua voz a me dizer
eu temo
que o tempo traga o desespero
e tenho
motivos pra te esquecer

eu sinto
sua presença no meu peito
de tanto
o meu coração bater
eu sei
que o nosso futuro não tem jeito
mas luto
como quem não sabe perder 

sexta-feira, 13 de junho de 2014

a busca

nesta sua busca
por novos escritos

rola com as pedras
que o fazem forte
vaga pelas ruas
como quem recorre
os mesmos lugares
com outro sentido

nesta sua luta
pra manter-se vivo

flerta com a sarjeta
como quem escorre
lança-se ao vento
que vem e dissolve
todo pensamento
pobre e sem motivo

quinta-feira, 5 de junho de 2014

reminiscências

nas paredes do corredor
ainda residem os ecos
frenéticos
daquela juventude

no teto do quarto dos fundos
o mundo inteiro continua girando
ao redor
da lâmpada incandescente

a memória tornou-se suficiente
para que o amor
mantivesse o seu orgulho

eu só duvido
é que este porre permaneça.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

abraça-me

abraça-me
como se o mundo
fosse livre
como se o medo
que eu ainda não tive
viesse te pedir
um canto
abraça-me
como se tudo
fizesse parte de um plano
como se o engano
fosse o tempo todo
em que não estás
comigo.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

a hora vai passar

não deixe de falar
o que te aflige
e encontre um tempo
para ouvir o que te excita
nessa vida
não permita que a morte
nos derrube calados
no fundo do mesmo porão. 

terça-feira, 27 de maio de 2014

causa e consequência

talvez o mundo continue o mesmo
depois que o inverno chegar
haverá fome na esquina
e gente passando por cima
cachorros de rua
dividindo espaço na chuva
selvagens alcoólicos
na contramão de seus propósitos
injustiça e desigualdade
servidos à la carte
escravidão no sistema
como causa e consequência.

terça-feira, 20 de maio de 2014

as gentes

a gente se ama
faz uma semana
a gente se encontra
e sempre apronta
a gente cai fora
e não vê a hora
de acender uma ponta
a gente não cansa
de falar o que pensa
a gente se atreve
a dizer o que escreve
a gente tolera
e nunca espera
que o destino revele
a última instância

sexta-feira, 16 de maio de 2014

fato síntese

ontem
cortaram as árvores
do horizonte
antes
derrubaram outras
importantes
agora
há um concreto frio
lá fora
sem nenhum oxigênio

quinta-feira, 15 de maio de 2014

à deriva

deixou as nuvens
agora navega por ares possíveis
distante daqueles vales escuros
onde à noite
o silêncio é maior

desceu do cume
onde as aves de rapina espreitam
onde o ar é bem mais rarefeito
e o amor
é capaz de sustentar alguém

em queda livre
pelas tabelas e esquinas da vida
como as folhas do outono, à deriva
mais uma nau
que se perdeu por aí

quarta-feira, 14 de maio de 2014

agora

quem sabe
viramos o disco
trocamos a faixa
e jogamos no lixo
aquele fardo pesado
de dúvidas desnecessárias
quem sabe
mudamos de lado
um outro prefixo
e despachamos pela janela
todo pensamento
que não represente o agora

sábado, 10 de maio de 2014

enquanto isso

o banal e o consenso
são maiores do que pensas
a “verdade” continua
protegida a sete chaves
por quem quer autoridade
a hipocrisia então, é regra
em terra de quem vê pouco
a justiça é bem mais cega

e viva a mídia que emburrece
e o regime que emagrece
a inteligência da espécie!

sexta-feira, 9 de maio de 2014

sem fim

sonhei com a liberdade
correndo no campo
com lágrimas nos olhos
o vento a favor
e um soluço que aumentava
e diminuía de intensidade

a cidade ficara para trás
bem como
alguns planos perfeitos de felicidade

o sol radiante no horizonte
pintava um pedaço do céu de vermelho
mas era tanto azul
e tanta luz
que aquele sonho não acabou
nunca mais.

sábado, 3 de maio de 2014

pelo sim e pelo não

não acredito no amor
como moeda de troca
como partida sem volta
como um olhar sem perdão

amar é mais que doar-se
é cumprir além do impulso
pelo sim e pelo não

o amor diferencia o forte do fraco
o doce do amargo
a solidez e a solidão

não é propriedade privada
realidade forjada
e não pode estar sufocado
por qualquer situação.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

vai e vem

vai
olhe as estrelas
porque não vê-las
foi um sinal
vem
senta na cama
não faz tanto drama
escute o que eu tenho a dizer
vai
despe o teu corpo
vê se relaxa um pouco
esqueça o final  
vem
fica comigo
não importa o perigo
vamos reconfigurar o sofrer

segunda-feira, 21 de abril de 2014

quase nada

e de repente
ele olha para trás
e não vê quase nada
quase tudo agora pertence
a sua memória programada
pois incluímos certas preferências
ao conjunto de lembranças
que giram dentro da cabeça
e é provável que ele até esqueça
o quanto sofreu por ela.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

a roda

a moral do trote universitário
é que todo calouro e/ou aspirante
a um lugar no mercado de trabalho
deve ser humilhado
até um ponto determinado
adquirindo conhecimento
experiência e poder
para então manter
a roda da imbecilidade social
girando

terça-feira, 8 de abril de 2014

acontece

seus olhos são o céu
do seu corpo vertem estrelas
seu eco é um samba de Noel
é melhor eu esquecê-la
seu silêncio é de matar
seu barulho de ensurdecer
ela é uma fera quando resolve atacar
ninguém espera que isso venha a acontecer
mas acontece

segunda-feira, 7 de abril de 2014

perda

sim
eu aceito
não
não pensei que seria assim
talvez
se tivesse sido diferente lá no início
é
ninguém está preparado pra isso

perder um poema em plena luz do dia
durante a concepção.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

depois de alguns minutos

pensei que seus olhos
me mandariam embora
imaginei que sua boca
me fecharia a porta
pensei que seu corpo
encontraria uma forma
de me despistar

pensei que sua sede
desejaria outros copos
imaginei que sua fome
devoraria outros corpos
pensei que seu desejo
tivesse mesmo mudado
pra ficar

foi um equívoco
eu sei

é que cultivo incertezas
e isso me faz bem.


segunda-feira, 24 de março de 2014

euforia

guardei comigo
a euforia de te ver
depois de testemunhar
a alforria de te amar
e antes que alguém
pudesse perceber
já havia mergulhado
no primeiro bar

pra encher a cara e esquecer
o que não dá.

terça-feira, 18 de março de 2014

nem o tempo

debaixo das nuvens
promessas solúveis
dissolvem-se ao vento

debaixo do travesseiro
um adeus com desespero
num poema de Allan Poe

depois de perder o cume
não há nada que arrume
um coração por dentro

nem mesmo o tempo
tem esse dom.

quinta-feira, 13 de março de 2014

no creo

acreditava em deus
até conhecer os padres
pastores e similares
acreditava na política
até saber sobre os políticos
assessores e seus malabares
acreditava no futebol
até descobrir os cartolas
empresários e toda aquela bandidagem
hoje ele acredita só no amor
que não tem atravessador
pra levar alguma vantagem.

sexta-feira, 7 de março de 2014

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

considerações

é solitário esperar
com as mãos amarradas
e necessário escapar
com os olhos abertos
não é difícil sonhar
enquanto o mundo desaba 
o impossível é negar
que já pisamos na merda

é imprescindível lutar
ao passo que a vida nos leva
nos leva
nos leva...

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

previsão de chuva

há quem tranque a porta
com medo do vento
e recoste a janela
pra chuva permanecer 
paisagem em movimento
há os que acendem velas 
com ar de oração
e usam cobrir os espelhos
temendo que o velho são pedro 
também resolva entrar nessa 
de justiça com as próprias mãos.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

o pacto

guardava um segredo
os joelhos ligeiramente esfolados
suas mãos estavam sujas e tremendo
com um corte no polegar direito

sua expressão parecia tranquila
os olhos eram de alívio e cansaço
enfim o seu mundo fora tocado
por outras mãos
pelas mãos certas, dessa vez

tinham em comum
tremor, sujeira, seu cheiro
e também o polegar direito
com sangue coagulado

passaram-se alguns minutos...
e ela confessou em seu depoimento que...

havia sido jurada de amor.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

resigno

a falta de sede
de subir pelas paredes
e desafiar precipícios
é o que nos joga nos vícios
que vão se acumulando
sobre as incertezas
e não há clareza  
que interrompa tanta escuridão
nem sofreguidão
que um dia possa
valer a pena.