os tempos

Foto: Daniel Gianechinni

esse tempo

com sede de andar

faz do presente

memória

faz do passado

história

e os amores

ah os amores de verdade...

nestes o tempo não ousa tocar

o relógio do coração é diferente

é inteligente

ele não tem ponteiros

e nem hora pra despertar.

muito mais

imagem extraída da internet

o vento levou a chuva

e as nuvens cinzas

para outro lugar

o frio me trouxe um motivo

e o fogo

foi a minha testemunha ocular

talvez uma taça de vinho

libertasse algumas de suas amarras

talvez algumas garrafas

tornassem as coisas desproporcionais

seus olhos me pediam a todo o momento

apenas cumplicidade

mas a minha vontade era muito

muito mais

n(a)Lua

Foto: Alexandre Neutzling

Lua

Pregada no céu

De noite o teu véu

Fala-me de sonhos estrelados

Ilumina o meu amor descontrolado

Regas a orquestra da minha constelação

Oh lua que me aquece feito o sol da meia-noite

Tão cheia de encanto, de beleza infinita

Crescente como a dor que me habita

Ao te ver tão longe e tão bela

Tão triste aqui da janela

Delirando sozinho

Lunático.

*Blavino - forma poética ideada pelos poetas Juliana Ruas Blasina e Volmar Camargo Junior. Este repro-duz a imagem de um triângulo ou pirâmide, apresen-tando uma estrutura estrófica 1-2-3-1-3-2-1. O pri-meiro verso está formado por uma única palavra e os seguintes vão aumentando progressivamente o seu número de sílabas, até alcançar a estrofe de verso único central, que é a linha poética de maior medida. Na segunda metade do poema, a medida das linhas decresce progressivamente até o último verso, que também está constituído por uma única palavra.

**Poema do livro [Re]versos, pág. 75.

caminhos de si

Arte: Jairo Tx

mergulho em mim

em busca de respostas

nem tão remotas assim

caminhos de si

quem ousa encontrar

quão profundo lugar

para submergir.

insonolência

Foto: Deny Barboza

aquele filme segue passando

na minha cabeça

e por mais que eu me entorpeça

não esqueço do assunto

a saudade me abriu

um rombo no peito

e assim eu me deito

e tento...

mas não durmo.

quando o frio

Foto: Raul Garré

quando o frio invadir

a porta dos fundos

intruso

o corpo

que já não é mais o mesmo

sentir-se-á confuso

ao buscar alguma fonte de calor

só o amor

talvez não baste

nem cobertas pesadas

e agasalhos de lã

o provável mesmo

é que com o tempo

o fogo

venha a se tornar algo imprescindível

assim como uma boa garrafa de vinho

e um mate pura folha

de manhã.

eu quero, eu posso

Foto: Alexandre Neutzling

viajar no silêncio

tentar ouvir as estrelas

ignorar a razão

tecer caminhos perfeitos

assoviar com o vento

viver morrendo de amor

acender um incenso

arquitetar pensamentos

e te jogar num colchão

demorar no teu gosto

embriagar o apartamento todo

colar teu rosto no meu.

poesia não se escreve, se expele

Foto: Daniel Giannechini

manhã de domingo

ainda dormindo, acordei

o vinho de ontem tingindo a minha boca

sem dor de cabeça, dessa vez

olhei-me no mesmo espelho

esperando ver a cara de alguém feliz

mas há algo errado comigo

eu não consigo me reconhecer

tamanha a dor da perda

tamanho o meu pesar em saber

que perdi aquele poema

antes mesmo de amanhecer

tentei me conformar

pensando no seu destino

mas essa coisa de inventar poema no ouvido

não podia acabar bem

talvez ela jamais esqueça do gesto

mas e do resto

como eu vou saber?

sem sentido

Foto: Camila Hein

não há mais papel

não há mais rascunhos

nem o mesmo céu

não há mais pássaros

nem fios de luz

derrubaram os muros

e os murais

o verão se foi

e todo pôr do sol

perdeu sua razão

diante de mim

não sei bem o porquê

dessas horas que se arrastam

sem sentido

depois da tua partida

tudo ficou assim.

o golpe

Fotoarte: Juliana Charnaud

enganam-se
os que se consideram frágeis demais
para reagir
no momento do golpe

é nesta hora que a verdadeira força
manifesta-se.