terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Semideuses

Arte: Fabriano Rocha

É bem provável que os altares
De alguns semideuses
Endeusados
Não tenham a base (verdadeiramente) sólida
Para suportar por muito tempo
O peso de sua soberba
Mórbida e ineficaz.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Despertar

Foto: Alexandre Neutzling

Uma ponte entre dois mundos
Um rio de injustiças e sua força corrente
Seu curso leva até o mar da verdade imposta

[Não posso pensar em me calar agora

Precisamos unir forças
Despertar...

Chega de viver de mentiras e hipocrisias
É hora de acordar!



*Do livro [Re]Versos, pág. 17, Edição do Autor, Pelotas/RS - 2012.

palavras pequenas

Foto: Raul Garré

Ele pensava que as palavras
Podiam traduzir em caixa baixa
Uma porção de sentimentos bons
E minúsculos
Comparados à imensidão
Do seu universo interior
Ele buscava encontrar uma só palavra
Que resumisse tudo o que ele sonhava
Nas noites úmidas de inverno
Frio e solidão
Ele sucumbiu num mar de palavras
Entre adjetivos e pronomes possessivos
E só recuperou seu fôlego e juízo
Quando naufrago na sua ilha de reflexão
Ele optou pelo sim e pelo não
E quando alguém lhe pediu
Para que descrevesse a dor em palavras
Ele se calou.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

strange

Arte: Jairo Tx

Pintei as paredes de cinza
Mudei parte da mobília
Que ainda dava conta da tua presença
Retirei os porta-retratos
Um a um
A cortina não balança mais com o vento
Acendi um incenso
Dois
Três...
O mesmo copo de uísque
Outra garrafa que, sem querer, chega ao fim
Um estranho me observa
Dia e noite
Pelo espelho do banheiro
E eu sinto medo
Que uma hora
Eu tenha que acabar com ele.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Norte sul

Foto: Daniel Moreira

A areia da praia em movimento
É nostalgia
Os caminhos sempre mudam
Em direção ao sul
E o destino
Adapta-se como pode
Aponta sempre um norte
Ele nunca está sozinho.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Fusão

Foto: Alexandre Neutzling


No ácido
Do teu beijo
Derreto-me
Em pouco tempo
E escorro pelo suor
Do teu corpo
Quando quase desapareço
Refaço-me no chão
Mas as tuas mãos
São maiores do que eu
Teu fogo
Lentamente me consome
Ainda não tem nome
Essa 
Com
Fusão.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Quase trinta e oito semanas



Há um amor por chegar
E enfrentar as injustiças do mundo
Um pequeno coração batendo lá no fundo
De um útero muito maior
Do que o tamanho de um punho
Esse testemunho
De tê-la crescendo sem vê-la
A não ser por conta
De raros momentos ultrassônicos
É algo extraordinário
E não
Não existem palavras no dicionário
Para descrevê-lo
Também não é a nossa primeira viagem
Somos marinheiros de terceira
Mas ela será a primeira
Que iremos chamar de filha
A Alice já tem dia pra deixar
O seu mundo de maravilhas
É dia trinta de janeiro
E eu quero ser o primeiro
A dizer:
Bem vinda!

sábado, 19 de janeiro de 2013

[Re]Nascer

Foto: Daniel Giannechini

Não desespere
Nem espere pra pensar
Nos dias melhores que virão
Eles chegarão um a um
Sucumbindo na escuridão da noite
Brotando na curva de um canal
Iluminado pela luz do sol
Inspirado pela novidade
De ser feliz por natureza
E pela possibilidade
Que nos dá a poesia
De morrer toda noite
E renascer todo o santo dia
Quando nos convém. 

À primeira vista

Foto: Camila Hein

Após a primeira vista
Zilhões de porquês sem explicação
Suor frio nas mãos
E nenhuma certeza como bengala

O tempo voa
Ao passo que o medo fala
E atordoa
Inibindo qualquer tipo de reação

Com a pequena exceção
De um sorriso amarelo
Que sem querer
Escapou por entre os dentes

Tornando consequente
Todo tipo de possibilidade

Já que o outro sorriso
Seguido de um olhar fulminante
Também invadiu por um instante
A pista que me invade. 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Evolução

Foto: Daniel Giannechini


Conclusões são desnecessárias
Nossa capacidade de mudança pode ir além
Dizer que isso é aquilo é muito fácil
Mas somente os tolos
É que cultivam certezas ultrapassadas
Pois não se dão o direito de evoluir
Pra dentro de si.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Horizonte

Joan Miró

Eu tenho um querer
Complexo na sua razão de ser
Ele não mede consequências para existir
E nem deveria
Pois esse não é o seu papel
É confidente do desejo
Primo-irmão do anseio
Convive com borboletas e cataventos
Dentro de mim
Não é por sim dizer um simples querer
Ele mora num sonho
Que está prestes a se realizar.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Rio Jaguarão

Foto: Jose Kler
Água de seda
Pedaço de céu
Que cruza por baixo da ponte
Teu limite é o horizonte
A lagoa
O teu fim.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Tremores

Foto: Alexandre Neutzling

Fiquei sabendo
Que vontades e tremores
Balançaram estruturas
Perto do porto
Longe de mim
Fiquei imaginando
Placas tectônicas em movimento
Tsunami no Laranjal
Dente na pele queimada do sol
Um beija-flor além do jardim. 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Utopia

Foto: Alberto Blank

Eu me reporto ao desconhecido
Onde é singelo o extraordinário
Onde as ruas levam ao inesperado
E o acaso é pura rotina
Eu me acordo quase todo santo dia
E pego carona em planos incertos
Repletos de utopia
Pouco me importo com as possibilidades
O meu destino seria o fim nessa cidade
Se não fosses tu
Oh poesia!

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Poema sobre o asfalto

Foto: Diogo Goebel


Não é de hoje esse desejo
Que incomoda o meu sossego
Não é de hoje que te vejo
E tenho medo
Não é por ontem
Ter te visto me vendo
Que fiquei escrevendo
Essas coisas em movimento
Eu gosto mesmo é do vento
E de viver em perigo
Do meu jeito.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Mutante

Arte: Fabriano Rocha

Aquela rua
Não é mais a sua
Até os postes de luz
Deixaram de ser
Com o fim da estação
Aquele caminho
Perdeu o sentido sozinho
Nem mesmo aquela mesma praça
Manteve o seu estado de graça
Ao lhe perder
Aquele frio na barriga
Não é mais o mesmo
E nem eu mesmo sou
Quase tudo se perdeu por aqui
Depois que ela mudou.

sábado, 5 de janeiro de 2013

O livro dos rascunhos

Foto: Daniel Giannechini

Sobre a mesa de luz
Um velho caderno de rascunhos
Escrito a punho
E suas histórias
Para muitos ele não tem valor algum
Pois ali estão apenas
Riscos
Rabiscos
Garranchos quase ilegíveis
Caminhos impossíveis que foram se desbravando
A partir de linhas retas
E da tinta azul da caneta esferográfica
Imersa na inspiração efêmera
Que pariu cada letra ali disposta

E se poemas são mesmo
A tradução dos sentimentos do poeta
Em signos do alfabeto
Aquele velho caderno de rascunhos
Conta um pouco da minha história recente
E expõe as minhas vísceras em códigos
Que um dia eu soube decifrar.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Flagra


De tanto cruzar a esquina
A toa como um cão sarnento
Não é que encontrei o vento
Avesso àquela menina

Talvez seja a minha sina
Um pouco de sofrimento
Jogado mudo ao relento
Pra depois voltar por cima

Um sopro quase em silêncio
Um corpo todo em evidência
Um segundo pra chegar à lua

No outro lado da rua
Um desvestido ar de clemência
E a cara da beleza nua.

Ainda espero

Foto: Raul Garré


Eu quis te escrever um poema

Leve e introspectivo

Como me sinto sempre

Ao respirar contigo

Eu quis te escrever num poema

Intenso e intuitivo

Como vibra o teu corpo

Ao se deitar comigo.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Dois mil e treze

Foto: Camila Hein

Anseio
Por esse desapego
De me despir inteiro
De tudo o que tenho e mereço
Para que a culpa e o preço
Desapareçam
Nesse breve piscar de vida.