domingo, 30 de setembro de 2012

Precisa-se

Foto: Josekler

Aos pés da rosa dos ventos
No sul da América do Sul
Pancadas de chuva
Encontros relâmpagos
Umidade relativa
Desatinos e trovoadas
O frio é sutil
Como também a solidão
Mesmo assim a pele arrepia

É Primavera no calendário
E nos dentes
Flores, espinhos e temores
Recorrentes
No canteiro da avenida com nome de general
Um tanto perdido, mas não conformado
Preciso de um norte
Preciso de alguém que se importe
Pelo menos, um pouco! 

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Invadiram a massa cefálica



Roubaram a natureza selvagem
De cada um
Invadiram a massa cefálica
Ocuparam o espaço vazio
E introduziram uma nova verdade
Ouro de tolo
Que agora vigora
E se revigora a cada comercial idiota
Veiculado na TV

Quem foi que disse que precisamos de uma tele visão?
Necessitamos sim é de uma intro visão
Conhecermos a nós mesmos
Apontarmo-nos os nossos próprios erros
Degraus do amadurecimento
Lugar comum a poucos

O valor virou preço
A arte e a honestidade tornaram-se mercadorias
Campanha pela salvação de vidas
Comece pela sua!

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

PerplexCidade

Foto: Alexandre Neutzling

Viajam os dias
Arrastando-se pelas horas
Em que não estás
As ruas ficaram desertas
A geladeira vazia
O cinema fechou as portas
E interditaram as livrarias
Que agente frequentava
Nada mais foi permitido
Quebraram os vidros das minhas janelas
Atearam fogo as minhas escritas
Roubaram meus discos
Já não há mais tempo
Que eu possa esperar
Até as estrelas conseguiram apagar
Depois da noite da tua partida
Vê se volta!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Antene-se

Foto: Raul Garré

Pouco importa
Se as mesmas portas
Tornam a se fechar
Chega de desculpas
E dessa velha culpa
Que vive a nos sufocar

É hora da ação
De sair da frente da televisão
E começar a interpretar
Chega dessa mentira empurrada
E desse monte de nada
Que preenche as salas de simplesmente estar

Antene-se no seu mundo
Invista na arte
E desprenda-se do mecanismo social
Pois é melhor ser visto como um louco
Um vagabundo
Do que ser um mero escravo do sistema capital.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

A volta do frio

Foto: Paola Brum

A volta do frio
Subindo pelo sul do sul
A fio
O vento é um demorado assovio
Pendurado na janela do quarto
Eu, farto de mim
Encolhido num canto
Coberto por alguns sentimentos e um edredom
Sonhando com o teu corpo de fogo
Com o calor que queima ou acalma
Dependendo da lenha
E é claro, da situação
Um frio inusitado
Em plena primavera
Nem mesmo os jardins de inverno
E os meteorologistas com seus aparatos modernos
Poderiam prever assim
Talvez uma taça de um bom vinho tinto
Possa aquecer
E apaziguar o que sinto
Antes que chegue o fim.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Desabafo

Foto: Camila Hein

Eu preciso dizer uma coisa
E que alguém escute
Mas que não me pergunte
Nem ouse tentar entender
A minha motivação
Eu quero apenas falar
Por falar mesmo
Sem resposta ou represália
Sem que alguém se importe
Quero botar pra fora
Quero gritar bem alto
Melancolia sobre o asfalto
Dor que não vai embora
Mas enquanto não digo
Nem falo, grito ou desespero
Escrevo pelos cotovelos
Como desabafo.

domingo, 23 de setembro de 2012

Templo das Águas

Foto: Daniel Moreira

Templo das Águas
Tempo que acalma
E traz a paz interior
A natureza se faz exuberante
Florescendo a primavera
No sorriso de quem espera
Na espontaneidade de um pequeno instante
Templo do amor e da convivência
A água da enchente que sobe
E deixa marcas
A água da chuva que leva o barro
Como num passe de mágica
E tudo volta a ser
Como não era
Templo da arte
Da música do Marco
E da poesia da Marta
Uma das trilhas leva até a cachoeira
A outra
Percorre o interior
Que existe dentro de cada um de nós.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Moinhos de vento



Carrega minha ilusão
Em tuas mãos
Atravessa os meus sonhos
Desafiando o pudor
De ser uma estrela cadente
Num céu de desejos ardentes
E diálogos de silêncios e gemidos
É tão bom estar contigo
Mesmo em pensamento
É tão fácil prever o impossível
Observando os cataventos
E o que dizer dos moinhos de vento
Enquanto ventania
Talvez a poesia
Pode ousar traduzi-los.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Paixão e ritmo

Foto: Raul Garré

Sobe o tom
Ouço as notas de um tango
Ao tocar o teu corpo violão
As batidas do candombe
Ouriçando tua latinidade
Remexendo o teu quadril
Com vontade
Sobre as minhas intenções
Aí eu vou
Marcando o passo
No compasso de um samba de raiz
Sentindo-me feliz por estar vivo na vida
Cantando um choro com liberdade
Ao encontrar a felicidade num sonho
Que agente projetou e escreveu
Faça como eu
Relaxe um pouco
E sinta o som.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Amada

Foto: Alexandre Neutzling

Amada
Adoro quando tu disparas
Tuas armas de convencimento
Todas
Na minha direção
Eu vivo
Por feliz que sou e digo
Ouvindo atento e refletindo
O jogo de palavras doces
Que verte pela tua contramão

Amada
Nunca pense em tom de despedida
Em choro e velhas recaídas
Espere um pouco
Atente a outros perigos
Eu morro
A cada esquina
A cada fim de encontro, desligo
E me refaço num segundo
Quando quero estar contigo.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Um lindo dia

Arte: Konstantin Koróvin

Amanheceu um lindo dia
As poças refletindo a luz dos postes na rua
Ainda ligadas pelo céu escuro
Uma garoa fina e constante
Permanece
O canto ensandecido dos pássaros
Contemplando a vida
Na alegria de suas existências
Traz a infância até mim
De uma forma nostálgica e sutil

O desfile de guarda-chuvas na calçada
Sem fama
Pode alterar o humor de quem se preocupa
Exclusivamente com o seu umbigo
Mas tudo bem
É sempre tão belo um dia de chuva
Não sei por que alguns tolos
Teimam em chamar de tempo ruim.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Deságua



Lá do alto
Pode-se ver a lagoa
É incrível como o tempo
Como que o tempo voa
Desço pela estrada que não esqueço
Apresso o passo
Mas ando lento
Quero te encontrar num sonho
Quero te tocar por dentro
No fundo
Nesse louco mundo
Que nós criamos
A partir do primeiro beijo
Não creio em santos
E não tenho religião
Mas respeito
E ao ver de novo
O arroio São Lourenço ganhando a lagoa
Eu me lembrei da gente numa boa
E tive fé no nosso amor.

domingo, 16 de setembro de 2012

1, 2...3

Foto: Daniel Moreira

Um se chama João
O outro, Francisco
Basta sentir a presença deles
Pra saber que eu também existo
Frutos de uma paixão antiga
Herdeiros de um amor pulsante
Eu me aqueço e me embriago
Com os seus sorrisos
Eu me derreto e me refaço
Com os seus instantes
A pureza invadida pelo “social”
O bicho que aos poucos vai virando “gente”
A evolução do conhecimento
A personalidade em desenvolvimento
A importância do amor presente
Que coisa linda!
O que mais esperar dessa vida?

Bom...
Parece que tem outro coração
Batendo dentro do mesmo ventre
Enchendo de novo aquela linda barriga
Quem será dessa vez
Joaquim ou guria?
Guri ou Maria?

sábado, 15 de setembro de 2012

Tempo temporal



Chove na minha janela
Escorre água pela vidraça
Num choro copioso
Por uma dor de desamor
Cubro os espelhos
Pra não vê-la em meus olhos
Isolo pensamentos
Pra não lembrar mais nada
Mas o tempo lá fora não dá trégua
E essas lágrimas criadas
Nutridas pela sua ausência
Derramam-se feito cachoeira
Ao ouvir o som da chuva
E lembrar o gosto do céu
De sua boca molhada.

Todos têm seu tempo

Foto: Duda Keiber

O meu tempo parou
Depois de correr contigo
Congelar num beijo urgente
E eternizar a nossa história recente
Numa fração de segundo perdido

O teu tempo é outro
Voa na frente
Não pode ser medido
Tampouco compreendido
Por um coração doente

O nosso tempo mudou
Deixou de ser presente
Perdeu-se no esquecimento
Sumiu num dia de vento
E acabou com a gente.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Voa passarinho, voa

Foto: Alberto Blank

Encontrei um passarinho
Selvagem
Cantante
Tão lindo
Suas penas eram finas
Seu voar era elegante
A natureza é realmente algo fascinante

Num momento de vacilo
O ego primo-irmão do egoísmo
Quis detê-lo
E roubá-lo para mim
Mas a liberdade faz parte da sua beleza
E aquele lampejo de fraqueza
Libertou-se das minhas intenções

Voa passarinho, voa...

Os dias passaram
E por um desses acasos da vida
Eu vi o passarinho preso numa gaiola
Com um semblante diferente
Seu canto virou lamento
Seus olhos brilharam por me ver
Mas nada pude fazer naquele momento

Os alçapões são armadilhas
E os perigos são escolhas nessa vida
Que cada um assume para si
Espero ver novamente o vôo do passarinho
Que ele possa voar livre
Que ele possa voar pleno
Que ele ao menos torne a voar!

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Estopim



A inquietude
E o desassossego
Ainda andam lentos
Por meios extremos
No fio do estopim
E num poema que escrevo

Forjam-se os eleitos
Pelas mãos da maioria esmagadora
Aglutinadora de consensos prontos
Vendidos durante a programação diária de TV
Aberta para mentes precárias
Que consomem a si
E a quem proclamam amar
Como meio de subexistência

Troca-se decência por uma casa na praia
Troca-se vergonha por uma aliança política
Troca-se caráter por um partido que perdeu o lado
Trocam-se alguns trocados por qualquer coisa!

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Um moinho

Foto: Alberto Blank

Longe e perto
Perto ou longe
A terra segue a girar
A água a correr
Nenhum por quê
Por assim dizer 
Talvez

O mundo é um moinho, eu sei
Cartola disse muito bem
Ainda assim
Eu prefiro a nossa versão

Mas cuidado
Pois carrego comigo
Uma série de senões
Variados
Que podem ser facilmente
Utilizados
Inclusive com
E para quem
Eu amo.

11 de Setembro

Foto: Juliana Charnaud

Planejávamos uma fuga
Um momento só a dois
Mas o sonho virou vida
E uma dor de despedida
Instalou-se em nossos corações

Pensávamos numa aventura
Até em cruzar a fronteira
Fazer amor a viajem inteira
E deixar a realidade nua e crua
Para quando voltássemos depois

Faltou programar o inesperado
Duas torres lado a lado
Ruíram antes do dia chegar
Sobraram as cinzas da segunda-feira
E uma saudade derradeira
Que só o tempo será capaz de sanar.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Perto do céu

Foto: Alexandre Neutzling

Oh linda menina!
Tão bom te encontrar numa rima
Há pouco cruzei tua esquina
Olhando pra cima
Esperando chover
Algum sorriso teu

Oh linda princesa!
Da rua da igreja
Tua rara beleza
Talvez seja
Um dos motivos da minha euforia
Ao te reencontrar

Oh linda mulher!
Tão bom te querer
E se o destino também quiser
Deixemos de novo acontecer
Para que o mundo
Possa se acostumar

Com a nossa inconstância e intensidade.

Cinza e frio

Foto: Camila Hein

Segunda de cinzas
Sobre o céu da avenida
Calçadas frias
Intenções precipitadas
Pessoas endividadas 
Com suas próprias vidas
Fila na frente do banco fechado
Defronte aos bancos da praça vazia
Os pássaros amanhecem
As mesmas coisas acontecem
No limiar de mais um dia.

domingo, 9 de setembro de 2012

Fragmento(s)

Foto: Paola Brum

Poesia visual
Uma flor e um sentimento
A paixão desperta num clique
Palavras jogadas ao vento
Fotografia transcendental
O belo
O acaso
O intento
Um instante de criatividade
A liberdade em pequenos fragmentos. 

Pulsante

Foto: Raul Garré

Seus olhos sabem bem
Eles têm o brilho da criança levada
A infinitude do céu
A incerteza na despedida
Seus olhos falam da vida
Sorriem enquanto a sua boca canta
E se fecham como numa dança
Quando ela beija e sonha
Seus olhos sabem muito bem
Onde encontrar reciprocidade
Na solidão da cidade grande
Na afinidade de um amor pulsante
Seus olhos são contagiantes
Miram o futuro além de nós
Veem no escuro o que anseiam
Vivem por admirar o seu redor.

sábado, 8 de setembro de 2012

Sofreguidão

Claude Monet

Encontro minhas mãos onde eu queria
Elas viraram o jogo
Tateando o teu corpo
Aquele dia

Descubro aos poucos o que já sabia
Que sou refém do teu carinho
E não há rosas sem espinhos
No jardim dos nossos dias

Percebo uma mudança de clima
Uma mudança no tempo
Sai o frio e fica o vento
Busco o livre e topo com a rima

Chega aos poucos a nova estação
A paixão deixou de ser
Para o amor acontecer
E florescer sofreguidão.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Urgente

Foto: Alexandre Neutzling

Um verso
Reverso de mim
O inverso do fim
O princípio do Universo
Converso em silêncio
Murmúrios
Sussurros
Com o meu interior inconsciente
O tempo é tão pouco
O sonho é urgente
E o amanhã nada tem a ver com agente
Eu me atenho no hoje
No agora que insiste
Por mais que negue ou despiste
Eu sou o que sinto
Do nada que existe.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Inspiração

Foto: Duda Keiber
A inspiração
Anda rondando os meus passos
Em tudo o que faço
Ela está
Aparece no carro
No meio do nada
Também na madrugada
Numa insônia de bar
Ta no verso que escrevo
E no filme que eu vejo
Ta no gosto do beijo
Ta no medo de amar
Escorre pela umidade
Derramando-se em cascata
Por vezes quase me mata
Por horas só quer brincar.

Acontece

Foto: Alexandre Neutzling

Acontece
Que já conheço as motivações
Do teu silêncio
E isso me acalma um pouco
Pois também preciso calar por vezes
Reconheço
Cada palmo do teu corpo perfeito
Cada curva em que me perco
Na alta velocidade em que corre o tempo
Quando nos aproximamos
Como loucos

Acontece
Que reinvento um novo jeito
De te querer
A cada minuto sofrido
Pois toda a forma de felicidade pra mim
Tem sempre tudo a ver contigo.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Frioo

Foto: Paola Brum

O frio do azul
Hora vem de mim
Hora sobe o sul
Rompendo as frestas do que importa
Pegando carona no vento
Cruzando esquinas e portas
Girando moinhos e cataventos
Dentro da história
Que cada um carrega consigo

Há uma trilha que leva ao rio
Cristalino por natureza
Poluído pela sociedade organizada
Que deságua no mar comum
Aos sonhos de um pescador qualquer
Por culpa da gravidade
Por culpa dos senhores sem vontade
Que venderam suas almas
Por dinheiro de papel

O frio que sinto
Vem dos corações gelados
Cristalizados por sentimentos
Com data de validade
Vem dos valores atribuídos
Ao dito ser humano desta sociedade
Que caminha para a sua cova
Deixando um rastro de destruição
E poluição por conta da sua racionalidade!

Botão de flor

Foto: Gisela Rosa


Botão de flor
Olhar que provem
De um céu interior
Mordida a ferida
Beijos de um suicida
Perfume da vida
Num alto teor

Botão de flor
O dente na carne
A cárie da cor
Pétalas quase que figurantes
Desejo contagiante
Acaso e instante
Delírio e ardor

Botão de flor
Textura de seda
Inverno e calor
Água morta pela sede
Ouvidos que escutam paredes
Palavras na rede
Amor na dor.

domingo, 2 de setembro de 2012

De volta

Foto: Alberto Blank

De volta aquele jardim
Onde a vida vale a pena
E os perfumes se misturam
As sensações do dia a dia
De volta feito um colibri
Cortejando sua musa flor
Arrancando-lhe suspiros
Antecipando a primavera
De volta a quem eu era
Raízes fincadas no canteiro central
Caso do acaso intencional
Semente no colo da terra
De volta aquele jardim
Onde amanhece todo dia
Onde pássaros
Borboletas
E cataventos
Polinizam poesia.