quarta-feira, 29 de julho de 2015

surto

cansei de ser gente
agora sou bicho
cansei de ser lixo
que vive no luxo
agora sou surdo
não ouço absurdos
agora sou mudo
não falo com o mundo
cansei dos humanos
fulanos prolixos
cansei dos indícios
de surto e de fome
agora meu nome
não faz mais sentido
agora meus livros
serão meu escudo

quarta-feira, 22 de julho de 2015

canibal

o teu rio em curva
transbordou com a chuva
do fim de semana
o teu corpo em chamas
aqueceu a cama
pro café da manhã
as maçãs do teu rosto
alcançaram o gosto
da fruta original
com tuas carnes ao sol
eu me vi um canibal
a esperar o almoço

domingo, 19 de julho de 2015

chove

fotografia de Renata Wotter

se minha dor fosse líquida
cairia feito chuva
de um céu de domingo
alagando a rua dos teus olhos
no momento da partida

segunda-feira, 13 de julho de 2015

musa

teus olhos sabem o que dizer
quando me sinto indeciso
quando o teu corpo preciso se estende
e eu não sei  por onde começar
há mais coisas entre o céu da tua boca
e as tuas pernas
do que beijos e marcas de dentes
possam sonhar
eu, que te descubro a cada segundo
em cada linha e verso eu mudo
pra tentar te aprender
tu, que pelo fato de ser musa
me contagia com absurda
simplicidade de existir

quarta-feira, 8 de julho de 2015

o teu amor... agora é pó

o teu amor de dedo em riste
prensou meu sol contra a parede
e acusou o meu silêncio
por não ter nada o que dizer
o teu amor, tão egoísta
usou pronomes possessivos
teceu promessas chantagistas
só dava conta de você

o teu amor de dedo em riste
calou a voz do contraponto
e instituiu a pátria triste
de ter uma verdade só
o teu amor de egoísta
minguou com ar da intolerância
e se rendeu a impermanência
no instante em que veio o pior

o teu amor... agora é pó