quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Quase

Foto: Daniel Giannechini

De amanhã eu acordo
E me reporto aos sonhos
Que de quase reais
Vão se perdendo enquanto respiro
E não mais voltarão
Para provocar aquele suspiro
Que deixei escapar
Quase sem razão.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Incertezas

Arte: Fabriano Rocha


As incertezas se mantêm de pé
Fixadas no campo das possibilidades
Improváveis como um futuro distante
Em que outras variantes
Interferem no seu curso
Há quem diga que a fé
Possa mover montanhas
Eu derramo o que eu vejo e sinto
E exponho as minhas entranhas
Pois acredito no que não é palpável
Ao ponto de vagar e vagar sem rumo
Rascunhando um novo poema
Pelas mesmas avenidas de outrora
Sem ligar pras horas
Em que me consumo
Por simplesmente esperar
Sem saber no que vai dar
Por conta de tais incertezas.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Aconteceu

Foto: Alexandre Neutzling

Eu sei que por trás
De toda a delicadeza do teu rosto
Existe um olhar hipnótico
E me cai tão bem
Também sei
Que essa beleza que exalas
Vem lá do teu interior
E quando o teu sotaque fala
Silenciam os trovões ao meu redor
Eu sei muito bem
Que a novidade da tua aparição
Trouxe os versos pra bem perto
E o que não era certo
Aconteceu.

Tempo não

Foto: Piotr Musial

Já faz um bom tempo
Que eu percebi que ele
O tempo
É o senhor do seu nariz
Não há como adiantar o relógio da sala
Pra que chegue logo a meia-noite
Nem mesmo como desfazer suas malas
Antes que ela torne a partir
Tampouco posso antecipar
Aquele nosso papo
Que ficou datado pra depois de sua volta
Se é que ela
Um dia pensa em voltar
E não posso apressar os grãos de areia
Que descem lentamente
Pelo vão da ampulheta que controla os dias
E que faz o mundo girar
O tempo é previsível e intransigente
E só voa quando o coração da gente
Pede pra ele parar.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Em transe

Foto: Raul Garré

Ao semear sonhos apimentados
Nos jardins suspensos
Do teu apartamento térreo
As estrelas compuseram novas constelações
Agora alinhadas
Às formas do teu corpo inerte
Instantes em transe
Logo após cruzar as fronteiras do infinito
Êxtase no chão
Parece que um caminhão nos derrubou da cama
E nos jogou num abismo
Sem ecos possíveis
E sensações invisíveis a olho nu
Talvez por isso
Ainda não ousamos tornar a abrir os olhos.

domingo, 25 de novembro de 2012

Matemática

Foto: Camila Hein

Registradas na memória fotográfica
As marcas que marcaram em mim
Uma eternidade
Dessas impossíveis de se esquecer
Que não encontram lógica e nem razão
Para existir
Baseadas em fatos sensoriais
Remetidas ao coração desacostumado a sofrer
Foi preciso aprender
Que o amor pode ser livre de qualquer amarra
Que ele pode adormecer num silêncio profundo
Para despertar num sonho de mundo melhor
Como num passe de mágicas
Há aqueles que esperam do amor
Aquilo que ele não pode dar
Pois o amor não é prêmio de merecimento
É encantamento, química e matemática. 

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Um bicho

Foto: Alberto Blank

E assim se fez a humanidade
Com seus espelhos de Narciso
Cheia de egoísmos
E pronomes possessivos de imposição
Seria liberdade ou não?
Onde estão as grades?
Que separam o joio do trigo
Cadê a sapiência?
Que venda os olhos de quem não quer ver
Onde anda a sociedade?
Com seus dedos podres
Que apontam pelas costas
Sem ter causa
Ou motivo consequente
A cada dia que passa
Eu me sinto mais bicho
E menos gente.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

No ar

Foto: Daniel Giannechini

Lá fora o medo
No assovio do vento
Nas linhas tortas que confeccionam raios
Tempestade de ensaios
Pra te falar um pouco do meu amor

Aqui dentro
As vias de um sofrimento
Causado pelo desconhecimento de fatos
Somado a um pessimismo exagerado
Que mede pequenas chances
E julga pequenas causas
Sempre contra mim
Quando em meu favor

Suspensos no ar
Minha ilusão
Instantes de precipitação
E uma tênue garoa
Que não vai parar.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Entre linhas

Arte: Fabriano Rocha



Já faz tempo
Que palavras abordam sentimentos
E expõem o lado frágil de quem
Não aprofunda suas entrelinhas
Não é de hoje
Que meu verso está na tua
Sem saber ao menos
Se tu estás na minha
Se bem que não faria diferença alguma
Pois além de ousadia
Ele tem seus pontos fracos
É frágil
E mortal.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Um querer

Foto: Alexandre Neutzling

Eu queria ter um pouco de importância
Nem precisava ser vital ou fundamental
Podia ser uma importância moderada
Dessas que não mudam em nada
A vida de ninguém
Eu queria ser importante ao ponto
De quando por qualquer motivo
Feliz ou de aperto
Ela me quisesse um pouco mais perto
Pra despejar suas aflições no meu ouvido
E talvez derramar o seu contentamento
Sobre o meu corpo
Mas não espero e nem conto com isso
É apenas um querer. 

domingo, 18 de novembro de 2012

A seu favor


Sempre que me chamas
Lá do alto
Onde moras
Eu percebo o quanto é bom
Poder voar sem asas
Sempre que és chama
Fogo alto
E vai embora
Eu consigo levitar
Ao passear por sua brasa
E quando me pedes
Sem receio
Que eu a encontre em tanto tempo
Enrolo logo um bom motivo
Pois sou fumaça no vento
A seu favor.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Percepções



Para um mau entendedor
Nem mesmo todas as palavras bastariam
Para um bom entendedor
Apenas um olhar.

Saudade

Foto: Raul Garré

A saudade vai brotando aos poucos
Nutrindo-se de ausências e distâncias
E ganha mais importância
Quando se aproximam
As datas antes consideradas
Comemorativas
A saudade só é positiva
Nas entrelinhas de um poema emergente
Ou no refrão de algum tango de Gardel
A saudade sofre
Pena
Morde
Assopra
Rasga o papel
E não se cansa
A saudade não tem nada a ver com o amor
É figura antagônica
Incomoda feito criança contrariada
Desconcerta
E quase nunca agrada
Pois não sabe ir embora
A saudade é a companhia indesejável do agora.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Por enquanto

Foto: Camila Hein

Eu a vi na esquina
Cabelo preso
Astral lá em cima
Enquanto um peso
Se fez sobre mim
Nunca fui assim
De guardar mágoas
E resistir ao fim
Nem espero que as águas
Desse mar remoto venham a se abrir
Pra que eu e minha tristeza possamos passar
Estou no fundo e não quero sair
Perdendo oxigênio
Mas não quero respirar
Nem mesmo parecer
Que já estou melhor
Ao menos
Por enquanto.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Enquanto é noite

Foto: Camila Hein

Ainda espero pelo dia
Em que cruzarei tua rua
Sem resgatar memórias
Manchadas de vinho tinto
Nem encontrar desculpas
Sobre aquilo que eu sinto
E não tem mais valia
Diante desse novo momento
Vivido por nós dois

Também espero que depois
A vida desbrave novos sentidos
Absorvendo a ternura do voo de uma borboleta
Observando a postura do deslizar de uma caneta
Ao escrever um novo poema
Iluminado por grandes sonhos e inquietudes
E inspirado por incertezas tão pequenas
E sutis
Que farão sim, toda a diferença

Ainda espero pelo dia
Enquanto é noite
E chove na minha janela.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O tempo inteiro

Foto: Alexandre Neutzling

Beijar teu beijo
Pra matar minha sede
E alimentar o desejo
Que cresce no pulsar das horas
E dilata as minhas pupilas
Viciadas por te ver
Comer tua boca
Com a minha
Enquanto passeio minhas mãos
Pelo teu corpo
E quase me perco
Nas tuas curvas precisas
Sentir teu gosto
Ao dar-te o meu tempero
E tatuar teu cheiro
Sob o meu nariz
Pra quem sabe
Ser feliz
O tempo inteiro.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Juraria que te vi

Foto: Pedro Cunha

Eram os teus cabelos sim
Entrelaçados pelos dedos
No suave movimento
Sincronizando o quadril
Com o resto do corpo
Numa dança que é só tua
E de mais ninguém
Eram teus aqueles passos
Tal qual um cometa
Atravessando o espaço
Deixando fora de órbita
Quem se arriscava
Em parar pra ver
Era tua aquela magia
De me enfeitiçar
E eternizar segundos raros
Pois juraria que te vi
Mesmo depois de descobrir
Que tudo não passava
De uma miragem urbana.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

E mais nada




De quem é essa voz?
Que me fala sussurrando
“A vida precisa de mais poesia”
Ao amanhecer de novo
De quem é o clamor?
Que se encontra angustiado
Num papel empoeirado
Na solidão de uma gaveta profunda
À espera de olhos sedentos
E de ouvidos excitados
De quem é o sentimento?
Absorvido pela percepção
De quem já sentiu coisa parecida
Igual ou mais desesperada
Poesia é pra vida
Poesia é no bar
Pra gente voar
E mais nada.

Ao acaso

Foto: Alberto Blank

Derrama
O teu corpo em chamas
Sobre o meu
E ao arder
Diga por favor
O meu nome
O que pensas
E o que precisas
Agora
De mim
Pois o teu adeus
Que nunca tarda
Logo vai apagar o fogo
Espalhar as cinzas
Torturar as horas
Ao impor um fim.

sábado, 3 de novembro de 2012

Vazio

Foto: Raul Garré

Ontem eu ouvi o silêncio
Sussurrando com o vento
Tecendo planos futuros
Para além da próxima esquina
A noite estava indefinida
Os andarilhos não foram vistos
Nenhuma alma vagava pela rua
E até a praça me pareceu vazia.