sábado, 31 de março de 2012

Reencontro

foto: Juliana Charnaud


Como é leve
O encontro de corpos
Necessários
Em sincronia absoluta
Espontâneos por origem
E palavras no ouvido
Macias e tocantes
Como se o fim
Fosse o começo de tudo

Como é breve
O encantar-se com outra alma
O redespertar de um sentimento
Quase esquecido
O bater de asas
De um colibri apaixonado
Voando em alta velocidade
Pra saciar sua sede
Depois do prelúdio.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Espelho d'água

foto: Daniel Moreira


Espelho d’água
Onde afogo minhas mágoas
Nas bandas matutinas
Nos momentos em que exercito
O tentar te esquecer

Sem êxito

Caminho verde por entre a mata
Figueiras
Histórias e lendas contadas
No fim do caminho existe um espelho
Um espelho que me lembra você

Lagoa espelhada

Leva pra longe esse medo
Traduz o sossego
Nas correntes doces e salgadas
Que não aprisionam nada nem ninguém
Talvez apenas esse velho sentimento

Que aos poucos se vai.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Reticências...

foto: Camila Hein

É tão belo esse instante entre parênteses
Os segundos que voam calados
Nenhuma vírgula ou senão

É tão único esse momento
Que descreve tão bem esse sentimento
Com dois pontos, nova linha e travessão

É tão raro esse delírio mútuo
Essa loucura contida que escapa
Esse demorado ponto de exclamação!!!

Mesmo que venham as interrogações no futuro
Que os adjetivos mudem, o verbo, enfim
Haverá sempre reticências em nossa história...

Jamais um fim.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Devaneios

Foto: Alexandre Neutzling


Que tal nos encontrarmos por aí
Num cenário todo tingido
Borrado nas bordas com nuvens
E com sabor de bolo de milho

Cheio de flashes e feixes de luz

Que tal vivermos num instante de sonho
Decorado com papel de parede picado
Torcendo pra não acordar de manhã
Sedentos por comer a maçã do pecado

Mas não existem pecados...

Apenas rendas e transparências
Sobre as marcas do teu corpo bronzeado
E o relógio da sala intuitivo
Girando no sentido anti-horário.

Concepção

foto: Raul Garré


Vai a vida
Escorrendo aos poucos
Pelo tempo que consome
Menos a mim do que aos outros

Eu não corro não.

terça-feira, 27 de março de 2012

[re] começo

foto: Joseana Silva

Bem cedo
Perto do centro
Sem luz
Nem retrocesso
O outono
E o desejo
Voltaram ao começo

[re] começo

E mesmo que o preço
Desse regresso forçado
Por suas naturezas cíclicas
Não seja medido ou cobrado

É necessário que ao menos digam
A que vieram  
E quando voltarão a não ser

Pois duas despedidas repentinas
Podem levar um homem às ruínas.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Inquietude

foto: Daniel Moreira


Tenho medo de não ter medo
Quando chegar o momento
Um certo receio
Em não poder voltar atrás
Depois de um único e improvável beijo

Fatídico

Tenho uma preocupação despreocupada
De não mais conseguir pensar
Quando meu rio encontrar o teu mar
E eu desaguar
Nas profundezas dessa imensidão

Representada

Tenho um pouco do que me foi muito
E uma vertigem inquietante
Ancorada na possibilidade de encontrar
Algum porto ou lugar
Carregado de conformismo e contentamento

Sufocante 

domingo, 25 de março de 2012

Superfície

Arte: Janete Flores


Debaixo do mesmo teto concreto de espelhos
A cumplicidade pontual de dois corpos inteiros
Precipitou a seguinte conclusão:
Enquanto sozinho
O amor pode até ser regado
Mas só enraíza
Brota e ganha de vez à superfície
Lado a lado. 

quinta-feira, 22 de março de 2012

Busca

Arte: Banksy


Ainda procuro
Vozes no fim do túnel
Luzes no apogeu
Beijos no fim do mundo
Quem sabe           
Entre você e eu.

Terminal

foto: Juliana Charnaud


Foi um tempo em que a poesia
Entre idas e vindas
Noites e dias
Sobrevoava os escombros
Indiferente a qualquer possibilidade
De um desfecho sem marcas

Foram cicatrizes e farpas
Varando ruas sofridas
Cruzando os bares da vida
Dormindo em calçadas vazias
Sonhando pelas esquinas
Tatuadas no antebraço esquerdo

E de todo aquele medo
De te perder e me curar
Restou...
A distância irreversível
E essa dor insuportável
E terminal. 

quarta-feira, 21 de março de 2012

Matrix




Os papéis se acumulam sobre a mesa
O telefone não espera pra chamar
Relatórios expõem o que não sou
Esse mundo que inventaram
Vai sucumbir se não encontrar um comprador

[Matrix

A tela do computador oferece algumas janelas
É que sem ela tá difícil suportar
Uma pequena fenda binária no espaço digital
A paisagem devota daquilo que me faz bem
Que mal há em sonhar com uma tarde inteira?

Não é fuga
É desejo vestido de solidão.

terça-feira, 20 de março de 2012

Outono



Algumas folhas
Sem falsa modéstia
Resolveram jogar-se no chão
Enquanto a menina passava
No outro lado da rua
Vagando e só

Como vagam os dias

Algumas esquinas vazias
Esperavam pelo cinza
E sem querer ouviram passos
Como se fosse música clássica
Erudita
No clarão de uma nota só

Talvez um lá menor

Lá se vai aquela menina bonita
Vestida de verão.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Quase quatro

foto: Daniel Moreira

É madrugada
O silêncio e sua amplitude
Agora pesam um pouco mais
Possíveis almas vagantes
Circulam pela rua
Eu já não conto estrelas
Aprisionado nessa insônia

A todo instante
Eu questiono
E respondo
Em tom decadente
Como se fosse suficiente
Apenas
Esse respirar palpitante

São quase quatro horas da manhã
E o relógio da sala parou.

Veleidade(s)

foto: Alexandre Neutzling


Através das palavras no teu corpo
Eu posso ver um fio de mar
Suas ondas que vão e vêm
Sem por que
Tua beleza física e subjetiva
Que não se cansa de me inspirar

Desenho mundos e sonhos tolos
Ao vislumbrar tua pele colada na minha
Imagino fotografias indecentes
Pro trás das lentes envolventes
Que usas pra focar
O que te convém

Ainda bem
Que delírios podem virar versos
Quando bem entendem
E eu...
Posso te querer de novo
Quando você bem quiser.

domingo, 18 de março de 2012

Je t'aime

foto: Raul Garré


Nunca se deve deixar de dizer
Eu te amo!
Mas não aquele falar por falar
Ou simplesmente repetir o que o outro expôs
É bem mais

A vida não se cansa de nos mostrar
Quão breve poderá ser
Quantos obstáculos nós teremos que transpor
Com ou sem amor
E então...

Vamos todos dizer ‘’eu te amo’’

Proporcionar o momento certo
Olhar no fundo do olho
Esquecer o orgulho e o receio
Estufar o peito e externar com convicção
Esse lindo sentimento

Ao pai
À mãe
Aos irmãos
Aos amigos de verdade
Aos filhos
À vida

Se houvesse mais amor e menos medo
O mundo seria ainda melhor.

sábado, 17 de março de 2012

Jazz

Arte: Tina Tarnoff


Na distorção do improviso
O mesmo sol radiante de quase sempre
Transformou o fim daquela tarde
Com um brilho intenso
Um tanto diferente

Jazz

Ao som de Miles
E sentimentos dantes cálidos
Confessados em composições desesperadas
E acordes impossíveis
Nunca antes experimentados

Cor do som
Pôr-da-paixão
Casual 

quinta-feira, 15 de março de 2012

Trama

foto: Raul Garré


Um breve silêncio
Depois do dilúvio
Inclinação
Caso fortuito
Sentimentos plenos em cada papel

Um olhar que se perde
Outro que procura de longe
No céu
Estrelas e histórias feitas
Pra contar

Um instante de rara reciprocidade
Alguns segundos de insanidade
Molham o lençol da cama
Trama
Que faz o mundo girar

Revoada

foto: Camila Hein

Bem te vi passar
Correndo pra viver
Voando por voar
E surpreendendo-me a cada nova estação
Com teu respirar

Beija-flor
Seja flor
Seja pássaro
Seja o próprio amor

Quero-quero mais te ver
Como pássaro no horizonte
Cantando em tons verdejantes
Como antes de nós dois
Bem antes.

terça-feira, 13 de março de 2012

Inércia

foto: Juliana Charnaud

Depois das paredes
Testemunhas confidentes
Janelas embaçadas
Como se a noite
Estivesse toda desenhada
Na ilusão de um segundo

[Casual

Depois do gozo
Fraterno e delinquente
Sussurros ardentes
Confissões insolúveis
Daquele beijo quente
Não irei me esquecer

[Jamais

Depois de ti...
Não houve mais nada.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Refração

Arte by Banksy


Mesmo que tudo
Ao menos pareça
Mesmo que nada
Por conta de pouco aconteça
Eu vou fugir do fim

E talvez mentir no escuro
Que abriga a cena
Procurando o fundo de tudo
Pra que possa valer à pena
Esse curto lapso de tempo

[Incursão em si mesmo

Mesmo que o desistir
Seja meramente circunstancial
Mesmo que lutar
Não seja assim tão fundamental
Eu vou prosseguir.

Ardor

foto: Alexandre Neutzling


Ardendo em fogo cálido
Ermo de mim e do tempo
A ilusão soluça e espera
Como se o nada bastasse
Nesse momento.

domingo, 11 de março de 2012

[In] conveniências

foto: Raul Garré


Entre as prateleiras
Durante alguns instantes
Registrados em câmera lenta
Pelo sistema de segurança
Eu filmei você

E segui por corredores
Tão incrédulos quanto extensos
A olhar por entre as fendas
Nas possibilidades efêmeras e vãs
Um possível final feliz

Entre o que pude fazer
E o que fiz
Ficou a cumplicidade de olhares comuns
E desejos visíveis a olhos nus
Nada mais

sábado, 10 de março de 2012

Pasión

foto: Mitchell Kanashkevich

O jeito de saber de mim
O gosto de gostar assim
O medo do esquecimento
Aquela tarde de Março
Que ainda não acabou


[Com tudo


O mundo inteiro aos seus pés
Lutas internas expõem o revés
O beijo ante a fuga
Talvez de si mesmo
Talvez de ninguém mais

quinta-feira, 8 de março de 2012

Ah essa mulher!

Arte: Isabel Margarida Maia

Contemplo tua beleza
Compondo teus finos traços
Em canções que eu mesmo faço
Quando me dedico a falar de amor

Essa linda flor que me lança olhares
Esse perfume brotando de suas raízes
Subindo pelo corpo como se fosse o fogo
Enquanto me imagino a beijar o seu pescoço

[Como se beija uma mulher

Convivo comigo sentindo saudades
Pensando nos versos que ainda virão
Morrendo com a falta da tua presença
Embalando minhas noites com a solidão

terça-feira, 6 de março de 2012

Frente e versos

foto: Juliana Charnaud

Eu queria te dedicar uns versos
Mesmo sem ter a medida exata
Sem saber além do que penso e sonho
Sobre ti

Eu queria te descrever num verso

Breve e com estrelas penduradas no céu
Perfume de flor voando no temporal
Nas ante-salas das memórias vivas
Nas tardes de calor e de cartão postal

Anseio por te escrever ao menos um verso

E nele poder dizer o quanto isso significa pra mim

Talvez

foto: Raul Garré

A noite corre o vento
Corre solto
Cortando os apartamentos
Trazendo alento
Aos que esperam presos
No lado vazio de dentro

Talvez...
O calor não amanheça
Talvez...
Eu jamais te esqueça
Antes do fim do verão
Talvez...

segunda-feira, 5 de março de 2012

Além do sol

foto: Duda Keiber


O calor além do sol
O amor que transpõe o tempo e as distâncias
Atravessando evidências e discrepâncias
Munido de fogo
Vai queimando aos poucos
Só por queimar

O suor do contato provocado
Evaporando oceanos, mares e riachos
Respirando a beira desse mato cerrado
Um pouco abaixo
Do provável inesperado
Variante variável do improvável verbo amar.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Outra vez primeira

foto: Quélen Moreira


O mesmo quarto de tempo
A mesma cama suspensa
Nessa trama intensa e sensual

O mesmo pedaço de mundo
A mesma fração de segundo
Pra chegar junto onde se quer

O mesmo espelho no fundo do olho
A mesma fusão de corpos e beijos
Sutil movimento que faz tremer a carne

O mesmo encontro de sensações incontroláveis
A mesma certeza explícita
O amor duradouro é mutante e recarregável.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Amanhã sendo

Foto: Alexandre Neutzling

O mesmo céu que ontem desabou
Trazendo chuva
Vento e tons de cinza
Preocupações insípidas
Promessas e dúvidas etílicas
Mostrou logo o seu azul mais límpido

Quando amanheceu

O espelho não falando coisa com coisa
E o dia erguendo-se lentamente
Diante da minha impotência hipotética
Dessa disparidade imensa
Entre o querer e o realmente precisar
Entre o viver e o simplesmente deixar prá lá

O mesmo sol brilhou
E agora o que eu faço?
Aonde vou?

Sem fim



Há mim pouco importa
Se não atendes ao telefone quando eu ligo

Importa mesmo é que saibas
Que naquele exato instante
Eu queria estar contigo

São as horas rotas
Entre uma xícara e outra
Do mesmo café

O pensamento perdido na distância
Encurralado pela memória distorcida
Que faz da paixão
Um céu estrelado

Sem fim ou final feliz.