segunda-feira, 22 de setembro de 2014

narcisa

narcisa
do rio, fez seu espelho
no cio raspou os pentelhos
e reclamou que seu cabelo
estava sem corte

narcisa
no frio tirou a camisa
fez selfie da barriga
e debochou de sua amiga
sem prótese

narcisa
como seria a sua vida
sem cortes?

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

ciranda

eu te vejo
no lado sujo do espelho
e te bebo
com duas pedras de gelo
eu te perco
no meio de um pesadelo
e te escrevo
depois eu durmo até cedo

tem sido assim

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

absurdo

era um amor
de tirar o fôlego
de perder o sono
de faltar a fome
de lembrar o nome
e esquecer o rumo

era um amor
de tirar de cena
de perder o vício
de faltar o ofício
de lembrar poemas
e esquecer de tudo

era um amor
desses, absurdos

sábado, 13 de setembro de 2014

solo de trompete

vivo por conta de um acaso destino
sobrevivo sob as garras de um algoz predador
respiro com a certeza de não estar sozinho
caminho sempre o lado do meu temor

carrego nos ombros escombros de histórias
dirijo a minha vida com ficção
não fico pendurado em doces memórias
nem trato o futuro como uma opção

o meu mundo está no agora que se repete
na esquina que muda a cada segundo
na beleza de um solo de trompete
e na incerteza do olhar de um vagabundo

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

ventus

tomara que um vento
desses de primavera
te encontre

e te convide a vir
desarrumar os meus cabelos
numa tarde qualquer de setembro

terça-feira, 9 de setembro de 2014

assassinatos na rua nove

ele curtia poemas
e marcava seus amigos no face
ele marcava poemas
como se nada de melhor acontecesse
ele melhorava poemas
e era apedrejado pela crítica
ele apedrejava poemas
baseado na cultura analítica
ele analisava poemas
enquanto bebia num copo d’água
ele bebia poemas
afogado no seu quarto de mágoas
ele afogava poemas
e por isso não os publicava
ele era um assassino
no sentido literal da palavra

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

lua cheia

vem...
mergulha no mar da incompletude
demonstre o amor que nos divide
em atos 
e palavras na areia

vem...
enfrenta o temor que nos intriga
deixe que a maré cruze por cima
expõe o teu corpo
a luz da lua cheia

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

tem que bater

poesia que não toca
é faca que não fere
fogo que não consome
é comida que não mata a fome