sábado, 30 de junho de 2012

O escafandrista e a sereia



Ouvi de ti...

Adoro tua poesia
As frases feitas de efeito
Um pouco desse teu jeito
Sujeito
Surpreende-me a cada dia

Saí de mim...

Desejo e melancolia
Carinho de quem sente o outro
Momentos após o encontro
Apronto
Mais versos de pura ousadia

Enquanto
Ela e o seu olhar
Perdiam-se na imensidão do mar
E o céu aos poucos
Caía.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Chuva...

Foto: German Lorca

Cai a chuva
Minha
Tua
Nossa
Senhora das águas

Fala a chuva
Nos telhados de zinco
Pelas sarjetas da avenida
Trazendo a paz retraída
Tardia e necessária

Canta a chuva
Nos trovões da história
As canções esquecidas
Relembrando as tênues paixões do agora
Retratando o grande amor da minha vida.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Menina no rio

Foto: Josekler

Menina no rio
Mistura os teus sonhos
Com o frio
Traduz os desejos no cio
Balança na rede de pesca
Espia o vento na fresta
Vê a enchente e a massa passando
Passando
Levando consigo
Todo o lixo humano
Transtornos do cotidiano
Ausência de sentido
Água turva

Menina no rio
Avesso do som do Caetano
Não posso dizer se te amo
Ao coração
Ele adora ler-te
E escrever-te.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Encontro(s)



Encontro das águas
Do céu com a terra
Do verde com o mar
Teus lábios carnudos
Provocam suspiros
Revelam delírios de arrepiar
Encontro das almas
De vidas e sonhos
De cores opostas
A pele entre os dentes
O sangue que verte
O nu que a veste e encosta
Encontro de histórias
Distantes e distintas
Vibrantes e viscerais
Olho por olho
Beijos pelo corpo todo
E a certeza de não esquecê-la jamais.

domingo, 24 de junho de 2012

Poemágico

Foto: Alexandre Neutzling

Quão mágico é retribuir
Sem obrigação
Sem se preocupar com o sim e o não
Apenas porque se quer

Tão bonito quanto andar
Por andar e lembrar
E sorrir do futuro
Que se esconde atrás da porta

Quão mágico é o querer
Sabendo-se que conseguir
Pode ser uma questão de tempo
Mas não esse tempo medido por relógios convencionais

O tempo do coração
Por vezes demora muito
Demora muito mais.

sábado, 23 de junho de 2012

Sem palavras

Foto: Raul Garré


Fiquei sem palavras
Sem reagir
Senti-me a deriva
Como um náufrago numa ilha perdida
Perdido dentro de si
Fiquei sem palavras
Logo agora que precisava
Encontrar adjetivos
Dignos
Pra demonstrar o meu encantamento
E tentar reatribuir um pouco
Do que senti

Mas fiquei sem palavras por ti
...

quinta-feira, 21 de junho de 2012

O poeta

Arte: Jairo Tx 

Não tenho cara
Como esses caras por aí
Envergonhando a nossa raça

Não tenho fala
Pois aprendi que quem cala
Ouve mais e aprende

Não uso armas
Na minha luta diária
Empunho sonhos e palavras

Não tenho amarras
Eu cultuo o desapego
Como fonte de inspiração

Não tenho nada
Que eu não queira
Eu posso tudo a minha maneira

Eu sou poeta.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Chuva clássica

Arte: Luiz Zerbini 

Sempre que chove
Na janela da sala
Eu vejo a rua
Tal qual uma pintura vanguardista

Finos traços precipitados
As árvores bailando com o vento
E os pássaros cantando
Musica clássica orquestrada

Pessoas dividindo marquises
Disputando calçadas
Olhando para o céu, indignadas
Cegas pelo seu egoísmo natural

A TV fala em tempo ruim

Mas daqui eu percebo outro mundo
Diferente desse vendido na televisão
Sinto a harmonia plena da natureza
Num pequeno instante de paz e reflexão.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Estado bruto

Foto: Josekler

Um poema prematuro
Antecipando o futuro
Povoou o meu sentir
Ao extremo

Estava por certo inacabado
Não tinha métrica
Tão pouco era rimado
Não parecia ter um fim

Ali jogado num rascunho
Estado bruto

Um bruto falando tão bem de amor
E de simplicidade
Sem ao menos a necessidade
De ser polido para tocar.

sábado, 16 de junho de 2012

Aonde foi meu poema?

Foto: Alexandre Neutzling

Ao julgar pelas folhas
Que jogadas ao outono
Vão se espalhando pelas ruas
Acumulando-se como por abandono
Pelos cordões das calçadas
E nos canteiros das avenidas
Até serem varridas pelos garis
Quando assim o vento permite

Ao observar a água do rio
Descendo pelas encostas
Fazendo cachoeiras
E voltas
Cumprindo o seu itinerário
Rodeada pelo verde da pureza
Pelos cantos que provém da natureza
Até encontrar o mar e o sal

Fico a imaginar o destino de um poema
Jogado ao papel
Depois numa tela digital
Espalhando-se pelas redes sociais
Escorrendo através da sensibilidade das pessoas
Arriscando-se em virar lixo seco ou virtual
Para quem sabe numa última instância
Subir ao céu de alguém.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

11ª Edição do Especial Poesia no Bar

Arte: Valder Valeirão 


Hoje à partir das 22h no Clube 24 de Agosto em Jaguarão/RS, acontecerá a 11ª edição do Especial Poesia no Bar. Evento integrante da programação oficial da SEDA (Semana do Audiovisual). Distribuição dos marca-páginas com poemas dos poetas parceiros do projeto, recital com a presença de poetas de Pelotas, Jaguarão e região, exibição das vinhetas poéticas que concorreram na categoria Vinheta Universitária no 3º Festival Manuel Padeiro de Cinema e Animação e também a exibição do teaser oficial do Especial Poesia no Bar.

*Marca-páginas do evento de hoje.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Feliz...

Foto: Raul Garré

Aquela voz
Entrou de mansinho
Pelo meu ouvido
Escorregou no tímpano
Mexeu sem querer
Com os meus nervos
Despertou meus sentidos
Acelerou os batimentos cardíacos
Aumentando a circulação sanguínea
Instigando o meu corpo
A consumir adrenalina
Inspirando os meus neurônios
A produzir poesia

Tudo tão somente por ouvir aquela voz dizer:
-Feliz dia dos namorados!

Rádio Com


Eu queria voar bem alto
Ser quem sabe uma torre de transmissão
Entre a periferia e o asfalto
Transformando em felicidade todo o tipo de solidão

Eu queria gritar bem alto
Entrar pelos ouvidos da multidão
Livrar o povo do constante assalto
Sobre a nossa cultura e informação

Eu queria ser uma onda positiva no ar
Que entrasse em cada lar
Falando sobre poesia e tempo bom

Eu queria tocar o bom som
Ver todo o mundo me sintonizar
Eu queria ser como a Rádio Com.

Dia da fusão

Foto: Marta Tröger

De todo o meu amor
Ilhado no meu coração
A espera de uma expedição

Dei a ti e tu levaste
Olhos fechados de tanta vontade
Sonhos de realidades possíveis a dois

Namorar é para os fracos
Agente optou pela fusão
Mistura de carne e razão
Onde a alma tem papel fundamental
Rasgando paradigmas
Ante a convulsão capital
Dos que designam valores aos sentimentos
Onde um real vale mais que uma flor
Saberiam os escravocratas sobre o amor?

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Ávida vida

Arte: Jairo Tx

Tudo na vida
Tem porta de entrada e de saída
Há quem duvide
Mas o melhor da vida
É o que agente compartilha e divide
Pra somar.

Traçado(s)



Divido a página
Com linhas imaginárias
Que simulam o teu corpo
E por isso
Quase desabo
Num êxtase cardíaco

Adentro as tuas curvas
Com palavras
Sob medida
Que ao mesmo tempo
Exalam o cheiro
Da tua pela molhada
Quando ela queima na minha

Arrisco expressões
Tatuando a tua superfície
Martelando
No teu subconsciente
Tanta maluquice
E sentimentos indescritíveis
Que me vêm ao constatar
A beleza do teu par de tornozelos. 

domingo, 10 de junho de 2012

Antes o tédio

Cândido Portinari

Sai por sair
E simplesmente andei por aí
Como vagam os ventos
Como anda o tempo
Na solidão

Nas esquinas repetidas
O frio cortante
Penetrava na carne
E sem querer invadia
Minha outra face

Por ser caminhante e pensativo
E até certo ponto
Comedido
Cometi o tédio
Ao invés do suicídio.

sábado, 9 de junho de 2012

Antes que o agora fique pra depois

Arte: Jairo Tx


A vida
É uma brasa
Que por vezes quase apaga
E por outras
Verte fogo se assoprar

As memórias
São as cinzas
Que o vento facilmente
Leva pra lá e pra cá
Enquanto agente sente

O futuro
É lenha verde
Seca
De lei
E fora da lei

Distante de qualquer probabilidade
É mentira e é verdade
Sem previsão.

Um querer

Foto: Juliana Charnaud

Ainda há pouco
Quebrava o gelo com passos indecisos
Olhar a frente
A cabeça nas nuvens

Procurando explicações
Respostas
No mesmo lugar onde brotam
A dúvida e os questionamentos

Era um pensar quase impossível
Sem chance de final feliz
Pois era apenas um querer
E não dois.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Afago

Foto: Alexandre Neutzling

O fogo
Afoga o frio da rua
O vinho insinua
E a lua
Cada dia mais acesa

Vai subindo em meio aos prédios
Livrando-nos do tédio
Ocultando as promessas de felicidade forjada
Comprada por pouco mais de nada
Em suaves prestações

Como sugere o anúncio da TV

O frio
Afaga os temores havidos
Traz embutido
A lembrança de amores vividos
E a certeza do que não pode ser.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Frioo

Foto: Raul Garré

O céu está cinza
Uma massa de ar frio
Acaba de entrar no estado
E te trazer até mim
Com as mãos geladas
Os pés congelados
Enfim

Meia
Meia calça
Calça
Segunda pele
Quatro mangas
Um casaco
E um cachecol

Ainda trêmula, procura o sol

Diz estar dormente
Que não sente
Que não vê a hora do verão voltar
E se livrar daquelas roupas
E de todo o frio
Que castiga o seu sono
Nas noites solitárias sem dormir

Deitamos um pouco
Seu corpo
Logo ganhou calor do meu
Depois de uns beijos
De palavras e de desejos confidenciados
Ela jogou o edredom no chão
Pediu pra desligar o ar condicionado e falou:

- Que calor!

terça-feira, 5 de junho de 2012

Serenata

Di Cavalcanti

Aos que passam
Com seus passos acelerados
Andando em fila
Filando cada dia
Como se fosse o último e o primeiro

Aos que cegos
Transitam pelas calçadas
Calçados e munidos
Com seus espíritos de porco
Consumindo-se em consumir

Aos mesquinhos miseráveis
Que enchem os seus rabos
Enrabando os outros
E comendo com os olhos
O que não lhes é de direito

O meu desprezo

Eu prefiro cantar a vida
E falar de amor!

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Longe

Foto: Alexandre Neutzling

Aqui estou
Com os pés fincados no chão
Olhar atravessando a janela da sala
O pensamento longe
Longe

Que horizonte ele há de contemplar?
Quantas respostas irá obter?
Quantas janelas vão se abrir?
E sorrir
Para livrá-lo da solidão

Aqui não estou
Apenas resquícios do que não fui
E fragmentos do que não sou
Despejado no céu
Jogado nas nuvens.

domingo, 3 de junho de 2012

Papel

Foto: Paola Brum

Quero um piso firme
Sólido
Para observar
Para adentrar

Onde eu possa sentir o cheiro do mato
Aonde eu venha a sorrir nas manhãs de março
Com os pés descalços
Sem me preocupar

Quero que seja madeira
Que atravesse a lagoa inteira
Sem me molhar
Nem imaginar

O banho da princesa nua
O brilho da majestosa lua
Refletida
No mesmo lugar

O mesmo céu de rimar
Com papel.

Inesquecíveis

Pablo Picasso

Amanheceu gelado
A cama revirada
As cobertas no chão
Respiração profunda
A madrugada projetada em sonhos
Apimentados  
Despertou outros sentimentos
Outras sensações

O sol vai tentando entrar
Pelas frestas que não são suas
Pra esquentar a carne nua
Arrepiada com seus pelos invisíveis
Inesquecíveis 
Pra qualquer mortal.