segunda-feira, 30 de abril de 2012

Transcendental

Arte: Janete Flores


É o fogo da paixão transcendental
Clamando por olhares atentos
Munido de chamas
Vestido de brasa
Sedento por sair de casa
E oxigênio

De onde vem o frio?
Pra onde vai o amor?
Enquanto a lenha queima
E o vinho aquece
A poesia resplandece
Em seu vigor

Sinais de fumaça
Dissipam-se no céu
Calor que dá
E passa
Tingindo a cena
E o papel.

Contingente

foto: Camila Hein

Esse desejo em cores raras
Andarilho de pensamentos  
Transeuntes
Estupendos
Andou vagando próximo do teu apartamento

Depois do último andar

Essa vontade de levitar
De querer te ver
E poder falar
Vive deveras perto
Onde até o tempo parece não acreditar

Por que sofrer antes de sonhar?

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Longe

foto: Raul Garré

Aquela rua de esquinas
Entre praças
E construções envelhecidas
Sofre com o tempo
Que passa lento
Longe de mim

Por não saber

Aquelas escadarias
Em que descias
Majestosa em seu brilho
Soberana
Como se tudo aquilo
Fosse um dia qualquer de sol

Há pouco me fez lembrar você.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Soneto à saudade

Foto: Juliana Charnaud


Sob um teto de vidro
E reflexos inteiros
Vivem beijos proibidos
E abraços verdadeiros

Doces palavras no ouvido
Instigam o imaginário derradeiro
E os mesmos sonhos esquecidos
Voltam como se fossem primeiros

A saudade lembra a morte
Não chega pra quem tem sorte
Derrama em quem tem sede

Mata o desejo entre quatro paredes
Desafia a vida sofrida e sem cortes
E despeja melancolia na rede.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Frio

Arte: Jairo Tx

Eu não sei
Cansei de não saber
Não entender
E não questionar ninguém

Há dias espero
Por algo que talvez
Caia do céu
Ou dobre a esquina da Catedral

[De uma só vez

Vestígios perdidos
Imbróglios
Despido de vida
Doente

O que sinto
São lacunas e espaços vazios
Algumas páginas em branco
E um frio que não cala

Mas consente.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Ao acaso

foto: Alexandre Neutzling


Depois do horizonte
De nuvens de seda
De sonhos e cores
Esqueci-me do tempo

Vivi tão sereno
Junto às folhas do outono
Que aos poucos se perderam
Ao acaso do vento

Depois do oceano
Do vento em popa
Vestiu sua roupa
E deixou-me com um beijo.

sábado, 21 de abril de 2012

Ouça




Ouço passos pela casa
De pés descalços como os teus
O tempo mudou lá fora

Agora o frio é quem orienta as horas

Uma saudade em tons de outono
De ver-te bailar e sorrir tão fácil
Adormecida no despertar do dia

Nas entrelinhas do que eu não queria

Ouço um fio de voz no ouvido
Sinto um arrepio que não quer calar
Preciso desaguar o que me invade

Antes que seja tarde demais.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Opostos a postos

arte: Janete Flores


Um minuto para o dilúvio
Raios e trovões em êxtase
O vento e o inevitável
Balançam as cortinas do absurdo

Silêncio mudo

Realidades opostas
Sobre cama que queima
Sonham dois corpos que bailam
Sem ensaiar seu jogo de cena

Nenhum problema

Corações pulsantes
De duas almas errantes
Que não temem represália
Nem mesmo o esquecimento

Que chega depois do próximo instante.

Vôo

foto: Raul Garré

Quando agente sonha
E bate asas
Acorda e finge que é verdade
Dá uma vontade de voar!

É amor ou desejo por liberdade?

A um passo



Era um abismo, um precipício
Na escuridão de uma falsa certeza
Eu andava contra o vento
Devagar, a vagar e vagar...

Sem nada pra falar e ninguém pra ouvir
Aquele silêncio estridente ecoava
E se propagava numa noite sem a lua
E sem estrelas pra contar

Eu quase não era, já não tinha
O que sabia não era de grande valia
Então parei, respirei fundo, me concentrei...

E depois de alguns instantes
Resolvi ficar!

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Névoa




Hoje o dia amanheceu cinza
E uma névoa densa
Mais do que terna e tensa
Quase que molhou
O rosto
Ao dobrar a esquina

Fotografia da retina

Um sonho inteiro
Em pedaços
Forjado numa noite mal dormida
Por dentro de uma cama embevecida
Ensandecida
Ao acaso de um encontro inusitado.

Co-existir

foto: Raul Garré


Vivo essa distância
Ilusória e ofegante
Tão perene em cada instante
Quando me vejo mais próximo de ti

Longe daqui

Luto pelo direito de poder sonhar
E amar a cada segundo
Como se fosse o último dia do mundo
A imaginar-te dançando e sorrindo por sorrir

Eu vou conseguir

Sinto que o co-existir
Nem sempre faz de quem espera
Feliz
Talvez um pouco.

terça-feira, 17 de abril de 2012

A volta

Foto: Alexandre Neutzling



Quando tu voltares
Se é que vais voltar...
Por favor
Esqueça aquelas palavras trêmulas
Que escrevi pra tentar entender
E não te dei

Naquele surrado guardanapo de papel  

Bem como os dias de sol
E de solidão
Que foram se acumulando sobre os ombros
E que depois pendurados em paredes tênues
Por incertezas vivas
Aos poucos deixaram de me pertencer

Por conta desse outro alguém

Quando tu voltares
Não penses que vais me encontrar
Com o mesmo sorriso estancado na cara
Saibas que por conta de tudo
E de todos
Eu também deixei de ser.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Lembranças

foto: Camila Hein


É água que escorre
Vida
É vida que jorra
Amor
É amor que desembesta
E dói
É dor que sofre de ausência
Crônica

É o rio que chega ao mar
Doce
É o gosto que faz da tua boca
Quente
É calor que traz o suor à tona
E aperta o peito
Enquanto me perco em lembranças
Rotas. 

domingo, 15 de abril de 2012

Sem tempo





*Vinheta produzida por Carolina Monteiro e Danielle Menezes para a disciplina de Imagem Digital II, ministrada pelo professor Guilherme da Rosa.

http://www.festivalmanuelpadeiro.com.br

Trilha musical: "La Minor Improv", Balkan Balagan.

Sem tempo





Tudo o que quero agora
Vendo esse relógio empilhado de horas
É encontrar um pouco de tempo
Pra nós dois.



*Vinheta vencedora da categoria no 3° Festival Manuel Padeiro de Cinema e Animação.

Produção e direção:
Eduardo Martins
Felipe Fontes Delfino

Música:
Encontros e despedidas - Milton Nascimento e Fernando Brant

Intérprete:
Ricardo Herz

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Simples(mente)


São tantas coisas
Disponíveis e acessíveis
Nessa vida

Possibilidades infinitas de:
Compra
Venda
Aluguel
Empréstimo
Doação
Sonhos
Amores
Sexo
Drogas
Loucuras
E perdição

Mas não quero nada disso
Eu me contento
E me sinto pleno
Com apenas um beijo teu!

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Idas e vindas

foto: Juliana Charnaud

Já faz tempo que deixei de me preocupar
Com o inevitável
Como palavras prontas que caem no papel
E não conseguem traduzir
O verdadeiro sentimento

Não faz muitos dias que morri
Por dentro
Procurando ainda me encontrar no teu mundo
Até descobrir que nesse jogo de idas e vindas
Vagabundo

Tu é que me habitas
E não eu a ti.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Meu filhote

foto: Daniel Moreira

No dia que ele nasceu
E o peguei pela primeira vez nos braços
Descobri, depois, que quem nascia naquele momento era eu
A partir do instante do primeiro abraço

Lembro do primeiro som da sua voz, do seu primeiro passinho
Nunca esqueço seu sorriso
Carrego sempre comigo, pois preciso
Do seu amor e do seu carinho

Me sinto ídolo e fã ao mesmo tempo
Meu bebê está crescendo
Sabe ler, já arrisca um espanhol e até um inglês
Quando esta lendo

É um guri muito especial
Inteligente, bonito, carinhoso e educado
Tem bom gosto pra música em estilos variados
Adora dinossauros, jogar vídeo game e futebol

Esse menino que, ás vezes, age como homem
Será para sempre o meu bebezinho
Seria um Homem Aranha, Ben10 ou Super Homem
Se a vida fosse uma história em quadrinhos

Queria muito que ele soubesse
A importância que tem na minha vida
Que é gigantesca, do tamanho do universo
Infinita.
Como amo esse cara!


*poema publicado no livro "Poemas Urbanos", Editora Alcance, pág. 89.

domingo, 8 de abril de 2012

Tempo passa




Faz alguns dias que não escrevo
Talvez seja algo passageiro
Algum tipo de receio
Até mesmo falta de tempo

Mas se falta...
Por que passa desse jeito?

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Na chuva



Versejo palavras na chuva
Escorro pelos telhados envelhecidos
Como um rio que segue o seu curso
Como a lágrima que não quer parar

Versejo sentimentos, sensações
Pego carona num guarda-chuva qualquer
Apago o meu cigarro sem querer
Me pego pensando, viajando pelo mundo

Versejo olhos que choram
Que não veem um palmo diante de si
Versejo o rosto que molhou na chuva
O beijo molhado que ainda não se perdeu por aí.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Partido(s)

foto: Alexandre Neutzling

Quão tênue é a razão
Esse notável exercício quase em vão
De manter-se liberto em cárcere
E encontrar-se leve durante a pressão

[Midiática

Que lugar de outrora
Abriga em sonhos pesados esse agora
Fruto do pretérito imperfeito
Demérito de quem não investiu direito

[Naquela hora

Soma de erros
Subtração do verdadeiro conhecimento
Receio ante a ditadura do acerto
Quem de nós vai restar inteiro?

Otoño gris

foto: Raul Garré

Tardes grises de otoño
Hojas y sueños desparramados por el piso
Lagrimas de lluvia sobre un corazón sin dueño
Esquinas heladas en el lado b del disco

Miradas se cruzan en la calle de la amargura
Sonrrisas escondidas tras semblantes artificiales
Un poema explícito, sin censura
Una caricatura de sentimientos superficiales

Una debilidad, una nueva  estación
La certeza de una triste soledad
Al ver el paisage sin color

Tengo miedo de morir por este amor
Que perdió las hojas con el final del verano
Y pintó de tonos grises mi dolor.


 *Traducido por Martín Vergara

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Doce delírio




Doce delírio
É dizer que não digo
E sentir que não sinto
Nada por outro alguém
Além de você

Doce delírio é viver
De cara com as caretices do mundo
Tentando frear os segundos
Do tempo que passa voando
Quase sem agente perceber

Doce delírio é te ver
Faminta por subjetividades expostas
Sedenta pelos desejos da carne
E outras vontades remotas

[Em represa

Doce delírio é esse jogo de palavras
De entrelinhas tão rasas
Que não chegam a ludibriar
A profundeza desse teu olhar

[Azul turquesa

Farto

Arte: Janete Flores

Espaço
Preciso me espalhar
Sobre quimeras dissimuladas
Ante a janela do teu quarto

[Farto

Depois que o fim do mundo
Perdeu o sentido
A partir desse gozo celestial
E insuperável

[Improvável

Observar uma noite estrelada
Perdida ao acaso
Com seu brilho latente
Por ter minhas atenções

[Intenções

Totalmente voltadas pra ti
E mais nada.