quarta-feira, 30 de maio de 2012

Não pergunte, eu respondo

Van Gogh

Pressentes
Porque o estopim
Já foi aceso
E as vontades
Não têm volta
Como o tempo
Que passa
E passa
Lento a tua espera

Esqueça
Da razão por agora
Das penas
E das culpas plenas
Por amar
E fazer o que gosta
E que a inspiração
Seja um rio corrente
E te traga quente
Para desaguar no mar.

Presente

Foto: Raul Garré

Suas palavras
Davam conta de um presente
Ela disse ter lembrado
Por culpa de um passado recente
Que nos aproximou

O futuro pouco a pouco
Estava sendo traçado
Numa esquina
Numa via de dois lados
De uma avenida que não termina

Com o sentido cruzado

O presente de sua presença
Logo ficou no tempo
O agora
Que me trouxe a lembrança
É o que mais importa.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Chuva

Arte: Osvaldo Goeldi

Hoje são trovões
Tempo fechado lá fora
A chuva esperada virá enfim
Trazendo o alento ao pó do chão

Agora é reflexão
Cânticos ensandecidos
De pássaros subtraídos da sua natureza
Trazendo harmonia ao caos urbano que se instala

Enquanto o céu escurece
E fala
Com a boca molhada
Sobre relâmpagos e trovões.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Profundo e raso

Foto: Alexandre Neutzling

Foram alguns passos
Com os pés nus
Num horizonte alado
Quase inesperado e lento
Num dia mais do que comum

Não havia receio algum
Nem mesmo obstáculos
Ante as janelas hipotéticas
E mesmo quem vive sem elas
Sabe melhor do que eu

Como sentir sem se importar

Não se podia acreditar
No brilho daqueles olhos
Que vertiam da vertigem
E assumiam a origem
Do seu medo em se apaixonar

Foram instantes de acaso
E como tudo o que é bom
Profundo
E raso
Acabou.

Momentaneamente

Foto: Camila Hein

Nos teus olhos
Brotavam sonhos
Brilhavam desejos
Sorriam medos
Tão parecidos com os meus

Da tua boca
Escorriam verdades
Sussurros inteiros
Promessas ousadas
E infinitos beijos

O teu corpo
Na rede
Saciou minha sede
Momentaneamente
Sendo parte do meu.

domingo, 27 de maio de 2012

Evocação

Arte: Jairo Tx


São doces as palavras
Tão bem interpretadas
Pela tua voz
Rompendo o silêncio do escuro
Antecipando o futuro
Sobre nós

São macias ao ouvido
E duvido que sejam compatíveis
Com o esquecimento
Foram e serão em algum momento
Evocadas com o simples propósito
De me fazer bem.

Sinais de fumaça

Foto: Carmen Ferreira

De que valem as folhas do outono?
Acumulando-se nas praças
A serração nas manhãs de domingo
Sinais de fumaça
Indígenas mendigando pelas calçadas
Pessoas dormindo pelas ruas
Desperdiçando por conta de poucos
O bem maior
Que é a vida.
De que valem as feridas?
Se não forem curadas
Tomadas como aprendizado
Num caminho sem saída
De que vale a luta?
Sem a dignidade
De que vale o amor?
Se não for cultivado
De que vale a saudade que não é dividida?

sábado, 26 de maio de 2012

(In)verdade

Foto: Raul Garré

Buscava encontrar 
A verdade
Ainda que sem sentido
Ou mesmo pela metade
Ela queria
Porque queria saber

Nunca cogitou outras possibilidades
Abandonara todos os seus sonhos
Não se importava com os fins de tarde
Nem ligou mais para o pôr do sol
Enquanto alimentava sua obsessão
Na busca pela verdade

Não assistia filmes de ficção
Não consumia poesia
E todo santo dia
Ignorava as dores do seu coração
Que angustiado batia
Sem encontrar uma razão para tanta infelicidade

Um dia ela descobriu
Que cada um carregava dentro de si
A sua própria verdade
E morreu de tristeza
Por ter sido enganada
Durante tanto tempo.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Insolúvel

Foto: Daniel Moreira

Eu sem ela
O futuro vem num barco a velas
Sem tripulação
Subindo os mares
Descendo ondas quimeras
Pelo sopro suave da mãe terra

Eu com os pés no chão
Já o coração...
Quem me dera
Foi visto palpitando por aí
De braços com a saudade
Visitando outras eras
E cidades

Soluçando solidão.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Olha

Foto: Daniel Moreira


Corre
Deixa a ventania
Balançar os teus cabelos
Sonhar com o teu vestido
Levantar mundos e pelos
Em sintonia

Sinta
Seja o único limite
Entre o real e a fantasia
Ganhe o céu da subjetividade
Faça amor
E transe poesia.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Passarinho

Foto:  Alexandre Neutzling

Eu vi o nosso amor voar
Feito passarinho
Cantante
Batendo asas
Livremente
Colorido de beleza natural

Eu senti que dessa vez
Não seria normal
Fatídico
Verídico
Mortal
Afinal, quem nunca se apaixonou assim?

terça-feira, 22 de maio de 2012

A ficar

Arte: Janete Flores

No mear das coisas indizíveis
O receio distorce
Um silêncio prospera
E o medo domina a minha insensatez

Por que não dizer só dessa vez
Ante a verdade que impera
Imposta por amiúde quimeras
Exposta no aparelho de TV

No despertar desse amanhecer
Preferi o silêncio
De velar o teu sono
Do que tentar novamente te convencer

A ficar.

A pele

Arte: Jairo Tx


O toque do sutil
O beijo no molhado
O calor que incendeia
Corpos em combustão cósmica
A se encontrar no infinito
Escuro daquele quarto
Pedidos são suspiros
Revelações tão necessárias
Unicidade do desejo
No instante em que vejo
Todo o prazer representado
Na beleza dos teus olhos
Fechados. 

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Esqueça

Foto: Camila Hein

Se te vestes de névoa
Densa
E pensas que vou te esquecer
Esqueça
Não existe tal possibilidade
Pois mesmo que o sol
Chegue um pouco mais tarde
Ainda assim não será suficiente
Pra ofuscar o brilho
Que te faz presente
Em mim.

domingo, 20 de maio de 2012

É tarde

Foto: Daniel Moreira

Agora é tarde
O mundo parece o mesmo
Por toda parte
Sinaleiras em câmera lenta
O receio invade
Eu não posso parar pra pensar no depois

Divago aos passos
Vendo a noite sorrindo estrelas
Pelo espaço
Sem esperar que o improvável aconteça
Não me desfaço
Eu ainda carrego o futuro pra te dar.

Alto

Foto: Raul Garré

No alto do edifício
Vai ser difícil não se arriscar
Em pegar uma carona com o vento
E ir até onde você está

Parapeito que não abre
Para-raios que não sabe
Paraquedas
Para quem não acredita que possa flutuar

De olhos fechados

Horizonte de cinema
Para que a morte valha a pena
É preciso mais um passo
É preciso que eu possa continuar.

sábado, 19 de maio de 2012

Conjunturas

Foto: Marcelo Régis

Os dias foram se enfileirando
Sobrepondo horas
Sufocando o pranto
Aliciando os sonhos em torno de ti

Os versos que eram insólitos
E antes despretensiosos
Emudeceram e pouco a pouco
Foram desaparecendo de dentro de mim

Fim da linha

A chuva desesperada
O frio dessa madrugada
Mil coisas que não dizem nada
E essa espera que parece não ter mais fim.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Simples querer

Foto: Juliana Charnaud

Queria sentir tua boca
Parte da minha
Teus olhos fechados ao acaso
Teu abraço apertado
Envolvendo-me nas madrugadas frias

Queria deter o teu corpo arrepiado
Aquecer o teu quarto
E os teus pés congelados
Com o calor do desejo
Que só o teu beijo irradia

Ah como eu queria!

Ser digno de um suspiro teu
Ao menos uma vez por dia.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Maresia

Foto: Raul Garré


Era preciso se acostumar
Sentia frio
Sede
Carecia de uma dose de paciência
Pra não cansar
Todo dia era a mesma cena
Andava de um lado para o outro
Com seus pés descalços
Observando o fogo na lareira
Café numa xícara pequena
E um cigarro amassado a lhe acompanhar

Do seu apartamento
Não era possível ver o mar
Mas a maresia ofegante
Lembrava-a todo instante
De seu último romance
E outras histórias
Impossíveis de se acreditar.

terça-feira, 15 de maio de 2012

A te imaginar

Foto: Ana Klug


Eu quis saber de ti
E das tuas coisas
Que me soam tão bem
Sempre que me arrisco a te imaginar
Por aí

Por onde andas?

Além do meu pensar
Teu refém assumido
Que mora além do tempo infinito
E que nunca
Nunca vai passar!

domingo, 13 de maio de 2012

Amor e dor

Arte: Janete Flores


Disseram-me que o amor
Era o melhor da vida
Esperança retribuída
Como bater asas e resplandecer no céu

Sem contraindicação

Contaram-me sobre encontros
Sobre os escombros
Daqueles poucos que ainda lutavam
Em resistir tal sensação

Talvez por falta de opção

Falaram-me por falar
Sem escutar sequer
Nem ao menos tentar perceber
O pequeno equívoco escondido nessa afirmação

Pois o amor é cíclico como a flor
E todo fim anunciado
Dói. 

sábado, 12 de maio de 2012

Dois em um

Tarsila do Amaral


O fogo que afoga
E aquece
Por pouco esquece
Que somos dois e não apenas
Indivíduos
Individuais
De almas gigantes
E intenções pequenas
Obscenas e comportamentais
Em combustão
Ante o vapor que sobe
Enquanto a madrugada explode
E passa
E fica
E só.

Trêmulo

Foto: Alexandre Neutzling


Entre noites e temores
Tremores de terra
Amores em vida
Amores

Teu corpo trêmulo
Projetado no céu
E lento
Sentindo o vento

Esculpiu um segredo
Sem cessar seu movimento
Voou pra dentro de si mesmo
E ficou.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Por ti

Foto: Anton Jankovoy


Vestígios de estrelas
Rastros antigos
Ambíguos
Quiçá por ti

Magnífica fortaleza
Beleza atípica
Intrínseca
No estilo livre retro

Naufrágio lá no alto
Sensível e frágil
Improvável
Como esse nosso amor.

Verão de Maio

foto: Juliana Charnaud


A noite vibra nas palavras
Olhares não se calam
Ouvidos amiúde
Sob um teto de estrelas, decorado

Verão de maio

O som tem requintes de vinil
Tanto faz se for um ou outro prato
Troca o canal
Muda a fotografia de lado

Corta pro ensaio

Ensaio pra ficar registrado
Sintonia fina
Energia recíproca
E o teu poema recitado!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

10ª Edição do Especial Poesia no Bar

Arte: Valder Valeirão
Dia 09/05, quarta-feira, a partir das 19h, acontecerá a 10ª Edição do Especial Poesia no Bar no Coletivo Munaya (Rua Tiradentes, 2332).

domingo, 6 de maio de 2012

Desaba




Rompe o silêncio da noite
Trazendo sua vontade exposta
Vestindo rendas e transparências
Exala doçura

Encosta

Derrete logo no primeiro toque
Desarmando meus medos e receios
Atiçando meu querer verdadeiro
Desaba sobre mim

E gosta.

sábado, 5 de maio de 2012

Fração

foto: Raul Garré


Deitado no escuro do quarto
Com o céu inteiro
Meia lua cheia
E um velho terço de cabeceira
Eu vejo

Que o lençol agora te afaga
E teus sonhos
São lembranças vagas
Do teu corpo
Coberto de beijos.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

(In)certo

Pablo Picasso

Nenhum argumento
Pra me convencer
Quanto tempo lento
Sem te escrever

Passou

Melhor talvez seja procurar
Outro motivo pra existir
Antes de se entregar
Mudar ou partir

Assim

Mas não quero ter certezas
Nem tentar
Saber o quanto de tristeza
Cabe em meu olhar.

Ouro de tolo

Arte: Jairo Tx

De que adianta
Viver preso às memórias tantas
Deixando o presente de lado
Por conta de um passado forjado
E doce

De que vale o futuro
Sustentado em pilares com tons escuros
Baseado em hipóteses projetadas
Enquanto o hoje sofre de nada
E sonhos

O bom mesmo é viver o agora
Liberto do tempo e das horas
Aproveitando tudo e cada momento
Sem nenhum tipo de comprometimento
Tolo.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Aparência(s)

foto: Alexandre Neutzling

Parecia doce
Mas o amargo trago
Trouxe
A embriaguês de não saber
Figurada
Em tantos motes
Deturpando a vida
Pra que a morte
Pudesse talvez prevalecer

Parecia não entender
Que o fim de tudo
Era questão apenas de perceber
Esse monte de nada que restou.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Tudo poesia

Joan Miró

Atravessou a rua
Com seu vestido
Esvoaçante
Delineando o seu corpo
Intensamente
Com os pés descalços
Naquela tarde fria

Perdi o rumo

Que já não me pertencia
Contando
Os seus passos
Vislumbrando
Suas formas
Torcendo que a brisa
Virasse ventania

No final das contas
Era tudo poesia!