quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Intensa




Teu corpo é névoa densa
Bruma da noite intensa
Escorrendo por becos escuros
Querendo sumir do mundo

[sem espelho

Fitando os olhos no aconchego
Sussurrando canções de desapego
Falando pelos cotovelos

[tão bem

Sumo sem querer de mim
E me visto de escuridão sem fim
Visto que sou mesmo um louco
Por ti

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Distante

foto: Raul Garré


Essa distância que não aproxima
Vira a noite
Embriagada de incertezas
Consome os dias
Observando as fotos sobre a mesa
Na sala de estar

[estar e permanecer

Insistir nos mesmos erros
Nos mesmos sonhos em preto e branco
Nas últimas palavras
Embrulhadas com choro e velas
Pois o último encontro
Sem querer nos separou

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Só você




De verso em verso
A cada esquina
Teus olhos de rodear pensamentos
Voltam pra entregar o contentamento
Pra mim

Sorrindo com a tua boca
Falando do nosso tempo
Encontrando motivos óbvios
Obscenos
Pra tirar minha atenção

De hora em hora
Tento remediar essa tentação
Desviar minha atenção
Mas só você...
Só você me vem 

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Ilusão




No alto dessa ilusão
Margeia uma vontade
Quase insana
De dizer que não

Mas resistir
Seria como negar
Um provável desfecho feliz
Nesse motim

Fronteiras além de nós dois
Barreiras intransponíveis
Cobertas de seda
E de fel

Ilusão pra mim
É pensar que algum dia
Quis saber mais sobre ti
Só por saber

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Sem tempo




Tudo o que quero agora
Vendo esse relógio empilhado de horas
É encontrar um pouco de tempo
Pra nós dois.



***


Produção e direção:
Eduardo Martins
Felipe Fontes Delfino

Música:
Encontros e despedidas - Milton Nascimento e Fernando Brant

Intérprete:
Ricardo Herz

Sem saída

foto: Raul Garré


Vislumbro teu corpo
Coberto de malícia
Confuso nas horas
Perdido em mim

As paredes pintadas
Unhas feitas pra me ferir
E tua boca mordida
Num murmúrio sem fim

Miragem de consumo
Sonhos feitos de ti
Ilusão sem saída
Delírio de viver assim

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Insaciável



Enquanto a chama
Do teu fogo ardente
Revirar os lençóis da cama
Nessa trama estridente

[eu vou viver

Dando tempo ao nosso tempo
Fugindo das horas frias
Imerso no teu corpo, eu contemplo
Ante ao desejo por telepatia

[poesia

Essa dança que não cansa
Esse desejo que não sacia

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Sonhos de realidades




Meus sonhos
E suas grandes asas
Sumiram de casa
Inundaram o céu do quintal

[realidade paralela

Consumindo estrelas
Flertando com a lua cheia
Escrevendo um mundo louco
Em noites profundas e intensas

[nenhuma diferença

Enquanto pessoas e cenários
Aos poucos vão trocando de cena
Eu vejo Quintana sorrindo
Enquanto atravessa a rua num poema

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Noite adentro




O cinzeiro cheio
Histórias obscuras como tempero
Sensações da noite
A embriaguês de um pobre bêbado

[uma mesa de bar

Os fins que levam ao meio
Destino traçado no espelho
O mesmo sorriso forçado
Trocado por alguns trocados inteiros

[sem saideira

Atitude derradeira
Mais uma dose
O último cigarro amassado no bolso
Enquanto lá fora a vida segue
Sem nenhum esforço

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Indiferente

foto: Raul Garré

Indiferente

Coração que cala
Sofre
Não consente

Ao ver teus olhos de partir
Sem poder arriscar
Fiquei doente

Inconsequente   

Empalideço
Morro
Apodreço

E você
Nem sente

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Máquina de descrever





Vinheta produzida pela RAD produções em áudio, sobre o poema de Daniel Moreira.
Direção: Roger Dutra Rad
Trilha Sonora: Regis Dutra Nightmare Music.

Reminiscência




De volta ao quarto
Silencioso e farto
De perguntas sem respostas
Encontros e desencontros
E lembranças sem fim

Enquanto um cigarro me consome
Sem dublê, pseudônimo ou codinome
Eu não paro de pensar
Nem um segundo sequer
Em ti

Nada faz esquecer
A sensação desse amanhecer
Ecoa pelas ruas vazias
Reminiscência tardia
Que teima em permanecer em mim

Quem sabe




A cada segundo
Que me prendo
E me pego dentro de planos
Instigando o meu admirar
Por ti

[eu sou livre

Revirando motivos óbvios
Intuitivos e plenos
Cantando por aí noutra língua
Sonhando com essa pele morena
Que fascina

[mirando o futuro do outro lado da rua

Em cada linha
Cada palavra sozinha
Cumpre o seu papel
Atravessando essas fronteiras do pensar
Dias e noites a esperar

[quem sabe, por um sorriso teu

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Efêmero

foto: Raul Garré


O presente apresenta o efêmero
Breve
Refém do instante
Num piscar de olhos
Passa

Procura o passado
Memória recente
Lembrança distante
Destorcido ante si mesmo
Permanece 

E voa
De volta ao futuro
Sonhos em cima do muro
Muitos planos
À espera do efêmero

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Sincronia




Espaço tempo
Um quarto fechado ao relento
Canibalismo do desejo
Carnal
Depois do beijo

Difícil pensar
Desviar
Correntes além do que vejo
Fusão de um mesmo sentimento
Até o gozo final
E pleno

domingo, 13 de novembro de 2011

Novos caminhos




Não deixe que o tédio
Seja o remédio mórbido
Pras dores que te afligem
No dia a dia

Não espere até que a rotina
Precise de morfina para aliviar
Esse momento febril
De inércia e falta de ousadia

Vire essa página desgastada
Ande sem pressa de pensar em nada
Por novos caminhos e descubra
Por onde anda a sua poesia

De novo, amor

foto: Raul Garré


Quando tu vens...
Como o vento que dobra a esquina
Jamais previsível
Suave com o teu encanto
Sorriso fácil  
Nesse teu corpo de menina
Não há como fugir

Quando o tempo para
E as paredes ardendo em chamas
Inflamam o quarto e os lençóis da cama
Não há como esquecer
Nem como não se entregar
Por isso deixo a vida me levar contigo
Por aí

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Faz pouco




Faz pouco
Que aquele olhar intenso
Despediu-se de mim
Com um simples aceno
Como que dizendo:
Ainda volto a tempo

Sem promessas
Nem juramentos
Tampouco certezas ou contentamentos
Partiu num vôo solitário e lento
Sem saber se o voltar
Poderia trazer o bem a todos

Os dias se foram
E as noites permanecem me consumindo
Enquanto finjo estar vivo
E morto 

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Ciclos



No vai e vem
Dessa vida de ninguém
Corre o escuro
O silêncio profundo
Já passa da meia noite
Faz tempo que procuro uma saída

Dias e noites observando
Contando os segundos lentos
Olhando pra janela vazia
Esperando a chuva que não vem

Assim como as estações
Como o recomeço de tudo
Em todo amanhecer
Estou a esperar
Mesmo estando prestes a acabar
Sem você

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Todo pouco

foto: Raul Garré

De repente
Tudo mudou
Eu não estava mais sozinho
Nem tampouco
O meu amor

O velho reflexo
O mesmo espelho
Demonstravam novos traços
E o mundo todo por inteiro
Enquanto os teus olhos de brilhar
Quase que sorriam sem parar
Sem medo

Ainda é pouco
Mas ainda é cedo

Vento e sentimento



Escorre pelas esquinas
Entra pela fresta da janela da sala
Arrepia a pele
Move os quadros na parede vazia
O porta-retratos
Traz perfumes
E leva os sonhos para o além

Levanta o vestido de quem me quer bem
Faz chover
Faz chorar
Balança as árvores da praça
E dança
Espalhando a fumaça cotidiana
Pra só depois
Fazer de conta que vai embora

domingo, 6 de novembro de 2011

No bar




Não temo o futuro
Nem lembro ao menos
O que passou a fazer parte de mim
Depois de ti

[ilusão

O passado ficou preso no tempo
Consumido pelas agulhas
Que tratam das feridas esquecidas
Sem curar

[consequência

Um gole no presente
Da embriaguês ao sofrimento
É possível que eu jamais te esqueça
É possível que eu jamais consiga
Deixar de morrer neste bar

Na esquina

foto: Raul Garré



Na esquina
Um pouco embriagado
Vendo tua janela de dentro do carro
Não consigo pensar
Nem um pouco em mim

Queria te falar
Tenho dois presentes pra te dar
Mas esse nó na garganta
E essa impotência repentina
Vieram me atordoar

Mais um gole
Outro porre de incertezas
E essa ressaca de vida vazia
Que nem mesmo o fim do dia
Podem vir a curar

Os carros passam
A vida segue congestionada
Cheia de nada
Morta e viva
Início do fim

Poesia





A cada sonho
Em cada encontro
Eu mergulho um pouco
Em todo momento contigo
Nesse mundo louco
Eu vivo

Sobrevivo
Sem meios motivos
Nem argumentos falhos
Escorro e espalho
Minha vida sobre a tua
Vendo a lua na janela
Sem chorar

Vou de novo encontrar
O novo dia
Poesia de viver
Antes de enlouquecer
E esperar o impossível
Acontecer 

sábado, 5 de novembro de 2011

Andar

foto: Raul Garré


Ando
E por andar eu canto
E corro
Fugindo sem querer de mim
Eu morro
Muitas vezes sem saber
Em cada verso
Converso com o infinito
Horizonte mudo
Profundo
Submerso
Acredito na fusão dos corpos
Que não se calam
Duvido dos beijos
Que foram desperdiçados
Ao caírem no chão
Ao perderem a noção
Do tempo que nada tem haver
Com as horas

Escuro




Como posso me encontrar
Nesse quarto escuro com você?
Subindo pelas paredes
Pegando fogo enquanto tenho sede
Sem ar, com ar, sem ar

Como posso te encontrar
Nessa dança louca ritmada?
Vagando pelo espelho
Perdido no mundo dos teus olhos vermelhos
Enquanto consigo respirar

Não tenho medo do escuro
Tenho medo é de ficar...
E não poder apagar a luz
Quando o sol raiar

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Fusão




Jogo de cena
Realidade ou ficção
Corpos que se fundem
Sem nenhuma explicação

O céu tão perto
Pode-se tocar no chão
Sobre a pele nua
Da lua em combustão

Uma estrela cadente
Uma paisagem incandescente
Sobre mim

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Outra estação

foto: Raul Garré

No lugar das flores
Rumores de um sentimento
Que dispersou com o vento
Polinizando outros amores

Plantados no canteiro
Central da avenida
Indícios de uma nova vida
Na estação do ano inteiro

O frio que restou do inverno
Nos rascunhos de um velho caderno
Pode vir a despertar a paixão

O calor que antecipa o verão
Tornando o efêmero eterno
Aliciou sem querer o coração